Dois casais vão morar sob o mesmo teto, e uma das mulheres, Tereza, acaba se apaixonando por Máximo, marido da outra. Eles fogem juntos, e Pierina e Ângelo, os cônjuges que sobraram, acabam enfrentando a sociedade e ficam também juntos. Se você reconheceu de imediato essa troca de pares, é porque já leu O Quatrilho, livro do escritor José Clemente Pozenato que completa 30 anos em 2015 - ou já viu a versão para o cinema dirigida por Fábio Barreto há 20 anos e indicada ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Mais famoso livro entre os lançado por autores caxienses ou radicados em Caxias do Sul (caso de Pozenato, natural de São Francisco de Paula), O Quatrilho pode ser classificado como um divisor de águas no sistema literário regional, na visão do professor João Cláudio Arendt, coordenador dos programas de Mestrado em Letras, Cultura e Regionalidade da UCS e de Doutorado em Letras UCS/Uniritter. Antes dele, diz, até existia uma produção sobre a temática da imigração italiana, mas ela era largamente laudatória, apresentando os imigrantes como seres heroicos, míticos, quase com poderes sobre-humanos.
- O Quatrilho rompe com essa tradição, com esse imaginário social, e apresenta personagens mais humanos. Eles não são seres míticos, se parecem realmente com os imigrantes que aqui chegaram, que venceram, mas que muitas vezes não conseguiram realizar seus sonhos - avalia.
O mais curioso da história é que, ao contrário do que muitos possam pensar, Pozenato não cresceu numa típica família de descendentes de italianos. Embora tenha essa ascendência, conta, seu pai foi criado em Osório, e o próprio escritor, em São Chico. Quando veio para Caxias do Sul estudar no seminário, por volta dos 12 anos, ele não falava uma palavra de italiano ou de dialeto.
- Descobri a cultura italiana aqui, observando hábitos e costumes, pesquisando a história - diz o escritor de 76 anos, que hoje fala tanto o italiano gramatical quando o dialeto talian.
Aprendeu tão bem que conseguiu colocar a essência dessa cultura não apenas n'O Quatrilho, mas também nos outros dois livros que compõem a trilogia com ele iniciada, A Cocanha (2000) e A Babilônia (2006).
- A contribuição foi de tal ordem que ouvi várias pessoas dizerem: "Era bem assim". Trazendo um olhar de fora, Pozenato descortinou aos descendentes (dos italianos), mas também a todos os outros leitores, aspectos da história. Não a história factual, mas a conduta das pessoas. O Quatrilho foi uma grande síntese da cultura da imigração nessa etapa inicial _ analisa a pesquisadora Cleudes Piazza Júlio Ribeiro.
O tempo transcorrido entre a escrita do primeiro volume, em 1985, e os outros dois - que retratam, respectivamente, a geração anterior e o fecho da história dos protagonistas -, explica Pozenato, deveu-se ao fato de que, na época, assumiu funções administrativas na universidade, o que fez adiar o projeto.
Literatura
Romance "O Quatrilho" comemora 30 anos
Livro mais famoso de José Clemente Pozenato foi transformado em filme há 20 anos
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