Chegar à terceira idade é o fim das grandes emoções e descobertas? Claro que não. E isso é mostrado por Frankie, Grace, Robert e Sol, vividos respectivamente por Lily Tomlin, Jane Fonda, Martin Sheen e Sam Waterston. O quarteto protagoniza a comédia dramática Grace e Frankie, nova produção original da Netflix criada por Marta Kauffman (Friends) e Howard J. Morris (Eu, a Patroa e as Crianças).
No enredo, os maridos de ambas as personagens femininas revelam-se amantes, relação mantida durante os últimos 20 anos. O pedido de divórcio duplo dá início à trama, que se desenrola a partir da convivência forçada delas, que sempre se detestaram, e a chance deles de viver o amor realmente como um casal.
Os arquétipos das protagonistas não são nada inovadores. Enquanto Grace é elegante, neurótica e careta, Frankie é uma perfeita hippie que ganhou mais linhas de expressão. A força maior de ambas reside na atuação impecável das atrizes. Durante a primeira temporada, elas choram e sorriem e nos fazem chorar e sorrir. O brilho de Fonda e Tomlin, indicações certas na próxima temporada de premiações, só tem um problema: acaba ofuscando o resto do elenco.
Não que os demais atores se saiam mal. Um dos problemas dos protagonistas masculinos é que momentos importantes para entendermos o sofrimento e a dimensão do amor deles só são mostrados mais ao final da primeira temporada, o que torna essa cumplicidade entre telespectador e personagem tardia. Já os filhos, pouco é abordado de suas histórias. Assuntos como dependência química e racismo estão na pauta, porém não são aprofundados.
A falta de espaço dos coadjuvantes ao menos dá mais tempo de tela para as mais novas solteironas do pedaço. O choque da verdade é doloroso, no entanto, pode ser superado. O texto, que cresce em qualidade episódio após episódio, não suaviza os fatos, mesmo tendo a missão de nos fazer sorrir.
Costumo dizer que o mais importante não é a história que se conta, mas como se conta. Em Grace e Frankie, ambos são crucias. Vivemos em uma sociedade que cultiva estigmas, e alguns deles estão na linha de frente da atração. Mulheres, independente da idade, transam e devem tratar da sua sexualidade com liberdade. Seja com amor ou casual, elas têm todo o direito de fazer sexo, seja com quem for. E eles também.
Em uma das passagens mais bonitas da série, Sol afirma que é homossexual porque ama outro homem, e não porque isso é um estilo de vida ou qualquer coisa do tipo. Conceitos como monogamia e traição são discutidos entre casais independente de sua orientação sexual.
Atualmente, diversos produtos televisivos são lançados. Tantos que se torna impossível acompanhar a tudo o que é feito. Assim, saber escolher o que assistir é importante. Todas as séries são políticas. Por mais bobas que possam parecer, elas carregam discursos consigo. Logo, fico feliz por haver novas produções de qualidade que dão um passo além, passo este tão difícil para a sociedade.
Grace e Frankie
Comédia dramática
Netflix, 13 episódios (primeira temporada)
Cotação (0-5): 4
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