Se for verdade que o maior mérito de um dramaturgo é apreender o contexto social do seu tempo e expressá-lo, então Arthur Miller foi um grande escritor. Se for verdade que uma peça de teatro não é boa apenas pelo tema que aborda, pelas ideias que defende, mas também pela beleza de sua narrativa, então mais uma vez Arthur Miller foi um grande escritor. Se for verdade que o que comove e arrebata num texto dramático são as personagens, então, mais uma vez, Arthur Miller foi (e é) um grande escritor.
Responsável, junto com Eugene ONeill e Tennessee Williams, por arrancar o ranço provinciano da literatura norte-americana, Miller deu magnitude e consistência a um universo que sempre mostrou-se avesso aos conceitos de heroísmo e tragicidade, ou seja, a classe média americana.
Em Eram Todos Meus Filhos, escrita em 1947, o fornecimento de peças defeituosas de um avião provoca a morte de um grande número de soldados durante a II Guerra Mundial. O que levou o industrial Joe Keller a agir dessa maneira foi a possibilidade de perder contratos com o governo, o que levaria sua indústria à falência. Atirando a culpa sobre um sócio, Keller desfruta os benefícios da desonestidade. Quando a culpa é descoberta, um de seus filhos, aviador, suicida-se. Para não ver o outro filho entregá-lo à polícia, ele também se mata.
Depois da Queda foi fruto de um drama pessoal do autor, o suicídio da atriz Marilyn Monroe, de quem Miller havia se divorciado pouco tempo antes. Na peça, o protagonista, o advogado Quentin, entra em crise após o suicídio de sua ex-mulher. Abandona o trabalho e viaja para a Alemanha, onde visita um campo de concentração com suas câmaras de tortura. Dirigindo-se sempre a um interlocutor imaginário, ele declara: "Agora eu sei que o desastre da minha vida realmente começou quando um belo dia olhei para cima... e estava vazio. Nenhum juiz à vista".
Arthur Miller, nascido há cem anos, em 1915, faleceu em 2005, nos deixando um legado de grandes peças teatrais.