Hoje volto a escrever sobre uma das minhas "musas" (coluna de 24 de junho de 2014) - Eva Sopher. Escrevo algo que até pode ser mal interpretado, dependendo do humor do leitor. É que estou falando de insanidade. Afinal, passar 40 anos lutando obstinada e compulsivamente pela restauração, preservação e conservação de um teatro e pela construção de um complexo cultural para abrigar as diversas artes do palco - música, dança e demais manifestações cênico-teatrais - tem certa dose de insanidade. Saudável, elogiável, mas, de qualquer jeito, insanidade.
Inaugurado em 1858, o Theatro São Pedro encerrou as atividades em 1973, corroído pelos cupins e pelo descaso das autoridades. Com um projeto dos arquitetos Carlos Antonio Mancuso e Antonio Carlos Castro, a reconstrução foi iniciada em 1975, e a reabertura ocorreu nove anos depois. Sempre sob a batuta de Eva Sopher. Como escreveu o ator Paulo Autran num artigo publicado no livro de J. C. Serroni - Teatros, uma Memória do Espaço Cênico do Brasil (Ed. Senac, 2002): "Que maravilha a energia e a competência de dona Eva! Ela mendigou, sim; ela exigiu, sim; ela implorou, sim; ela incomodou, sim. Atualmente, não há teatro mais bem organizado no Brasil. (...) Assistir ao renascimento de um teatro é uma das maiores emoções que um ator pode ter".
Na apresentação de Teatro São Pedro, Palco da Cultura (IEL, 1989), ela escreveu: "Ao aceitar a tarefa de escrever a apresentação para este livro, cometi uma imprudência - como, aliás, cometi quando aceitei a tarefa de restaurar o Theatro São Pedro: agi com paixão em ambos os casos. Paixão pelo teatro, (...) paixão profunda que continua e continuará sempre. (...) A imprudência (...) refere-se ao fato de eu não ser escritora nem construtora de teatros, mas à tentação de um desafio dificilmente consigo dizer: Não!".
Pois é. Com o passar da carruagem, ninguém nega que valeu a pena. Parabéns, dona Eva. E que venham mais imprudências e insanidades.