Quem diria que um jovem de família pobre, que só cursou até o quarto ano do curso primário, que foi funileiro, palhaço de circo, jogador de futebol e camelô, iria tornar-se um dos maiores dramaturgos brasileiros. Estou falando de Plínio Marcos, que, se vivo fosse, estaria completando 80 anos em 2015.
Leia outras colunas de Luiz Paulo Vasconcellos
Em 1958, começou a fazer teatro amador na cidade de Santos, em São Paulo. Impressionado com a notícia de um jovem que foi currado na cadeia, escreveu sua primeira peça, Barrela, proibida pela censura por causa da linguagem pornográfica por mais de 20 anos. Aliás, essa linguagem, na verdade, foi talvez a principal qualidade das peças de Plínio.
Seguindo a tradição de Nelson Rodrigues, o primeiro autor a escrever o português que se fala e não o português que se escreve, Plínio Marcos revolucionou a linguagem do palco brasileiro. E não só do palco, da imprensa escrita também, já que escreveu para os jornais Última Hora, Diário da Noite, Folha de S. Paulo, Folha da Tarde, Diário do Povo e O Pasquim, e ainda para a revista Veja. Participou como ator de uma novela na TV Tupi - Beto Rockfeller - para não cair nas garras da ditadura militar, como afirmou numa entrevista: "Nunca gostei de trabalhar. Só fiz Beto Rockfeller para não cair na garra dos militares. Quando me ofereceram o papel, pensei: "Se aceitá-lo, ganharei evidência. E, enquanto estiver em evidência, os milicos não me pegam". Mesmo assim, foi preso pelo exército em 1968 e liberado por interferência de Cassiano Gabus Mendes, então diretor da TV Tupi, e sob a tutela de Maria Della Costa.
Além de Barrela, escreveu algumas obras-primas do teatro da época: Jornada de um Imbecil Até o Entendimento, Quando as Máquinas Param, Dois Perdidos numa Noite Suja, Navalha na Carne, Homens de Papel, O Abajur Lilás, Oração de um Pé-de-Chinelo, Balada de um Palhaço, O Assassinato do Anão do Caralho Grande e Madame Blavatsky. Escreveu ainda peças para crianças, contos e romances. Para quem só terminou a quarta série e começou trabalhando como funileiro e camelô, não é pouca coisa.
Coluna
Luiz Paulo Vasconcellos: o teatro de Plínio Marcos
O colunista escreve quinzenalmente no 2º Caderno
GZH faz parte do The Trust Project