Eles já eram afinados pela música e pela história. Agora, Bebeto Alves, Jimi Joe e King Jim têm também uma causa em comum: a doação de órgãos. Para tanto, o trio estreia neste sábado a impagável banda Los 3 Plantados, com show na Fundação Ecarta.
Bebeto, Jimi e Jim são contemporâneos de uma das mais prolíficas cenas musicais de Porto Alegre, aquela que, entre meados dos anos 1970 e começo dos 1980, deu sotaque regional ao rock para criar algo totalmente diferente. Mas quis o destino que eles afinassem seus instrumentos no mesmo tom só agora, depois que os três passaram por transplantes de órgãos.
- No final do ano passado, minha mulher deu a ideia da gente formar a banda dos transplantados. A gente gostou e começou a trabalhar nisso - conta Jimi.
Dos encontros surgiram canções inéditas, a maioria refletindo situações ligadas ao período de convalescença. O que não significa baixo astral, pelo contrário: durante a entrevista, o trio se comporta como um bando de guris que recém descobriram o prazer da música.
- É uma sensação boa, de experimentar coisas novas e diferentes. Afinal, somos uma nova banda. O que é melhor do que estar numa nova banda? - pontua Bebeto.
Para o show deste sábado, Los 3 Plantados deverão tocar canções de suas carreiras e músicas recém-compostas, acompanhados de um baixista e um guitarrista - que não são transplantados, é bom ressaltar. Durante o espetáculo, falarão sobre suas experiências e sobre a importância da doação de órgãos.
- Mas queremos ir além. Esse show é só o começo de algo maior - ressalta Jimi.
Jimi Joe
Integrante da seminal Atahualpa y us Panqui e há anos homem forte da banda de Wander Wildner - além de manter uma consistente carreira solo -, Jimi descobriu aos 20 e poucos anos que tinha rins problemáticos. Em 2003, desenvolveu uma anemia que o conectaria à máquina de hemodiálise pelos 10 anos seguintes. Em maio passado, recebeu rins novos, mas foi só em janeiro de 2014 que sua situação se estabilizou.
- Logo após a cirurgia, tive uns problemas com infecção e acabei seis meses entrando e saindo do hospital - conta.
Recuperado, voltou a tocar com Wander e está gravando seu novo trabalho solo (sem previsão de lançamento), que deve refletir o período em que esteve em tratamento.
- São canções que falam da minha relação com o transplante, a vida em hospital, a força que minha mulher me deu - adianta.
King Jim
Vocalista da mítica banda Garotos da Rua, Jim é o caçula da turma - tem 57 anos - e teve o fígado inutilizado pela cirrose e por uma hepatite C. Durante os três anos em que precisou esperar por um novo órgão, tentou gravar um disco solo, mas conta que mal conseguia ficar em pé.
- Gravava meia música por dia, encostado na parede do estúdio - diz.
Jim entrou na faca em novembro, mas voltou ao batente logo que pôde. Retomou os trabalhos de seu próximo álbum e caiu na estrada novamente: no último final de semana, fez dois shows em Novo Hamburgo.
- Depois do transplante, fica a sensação de que o tempo é menor do que parece. Então dá vontade de fazer mais coisas e com mais vontade - declara.
Bebeto Alves
Bebeto foi o primeiro transplantado da turma: ganhou um fígado novo em abril de 2013, após anos tratando uma hepatite C que evoluiu para um tumor. Depois de um tempo de molho, gravou um novo disco - o bonito Milonga Orientao, com a banda Blackbagualnegovéio - e afinou seu trabalho como fotógrafo experimental, expondo inclusive na Santa Casa, onde ficou internado durante o procedimento.
Agora, está focado no lançamento em DVD do filme Mais uma Canção, de Rene Goya Filho e Alexandre Derlam, que documenta a busca de Bebeto pelas suas origens musicais, e dando os retoques finais no clipe da faixa Milonga Orientao, com o parceiro Humberto Gessinger.
- Está ficando muito bonito, com um tratamento todo cinematográfico - diz.
Trocando em miúdos
Bebeto Alves, Jimi Joe e King Jim fazem show conjunto no sábado
Recuperados de transplantes, trio se juntou na banda Los 3 Plantados
Gustavo Brigatti
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: