O número impressiona: o conjunto de obras da escritora Agatha Christie (1890 - 1976) já soma cerca de 4 bilhões de cópias vendidas em mais de cem idiomas. Trata-se de um recorde editorial registrado no Guiness Book, superado apenas pela Bíblia e os livros de Shakespeare. E o público quer mais. A rainha do crime acaba de ganhar reedições de suas obras em três editoras no Brasil.
A L&PM Editores, que já supera a marca de 70 títulos publicados da autora britânica, planeja lançar neste mês Entre Dois Amores - originalmente assinado pelo pseudônimo de Mary Westmacott - e o combo Mistérios dos Anos 60, com várias histórias. Há ainda cerca de duas dezenas de volumes que deverão entrar gradualmente no mercado.
Já a Globo Livros selecionou oito clássicos da escritora para lançar com nova proposta gráfica. Os primeiros deles, Três Ratos Cegos e Outros Contos e E Não Sobrou Nenhum, já estão à venda.
Enquanto isso, a Nova Fronteira anunciou para este mês seis reedições de luxo, em capa dura. A Mansão Hollow e Assassinato no Expresso do Oriente estão entre os escolhidos. E a editora tem outra novidade para setembro: uma aventura inédita do detetive Poirot, personagem mais famoso de Agatha, escrita pela britânica Sophie Hanna com o aval da família da autora. A seguir, confira três razões por que a obra de Agatha Christie segue um clássico.
1. Leitor detetive
Os livros de Agatha Christie não são apenas para ler: o desafio é seguir as pistas certas e tentar descobrir o assassino. Como poucos escritores, a autora consegue urdir uma trama em que não é impossível resolver o caso proposto, mas exige do leitor perspicácia e inteligência. Como diria Hercule Poirot, é preciso usar as células cinzentas.
- Assim como George Simenon (1903 - 1989) e Conan Doyle (1859 - 1930), Agatha faz o romance policial clássico, em que o leitor só sabe o assassino nas cinco últimas páginas - explica Ana Lima Cecilio, da Globo Livros.
O esquema costuma se repetir: o crime se dá geralmente na mansão de uma família, envolvendo um número limitado de suspeitos e testemunhas, que serão ouvidos um a um. E o leitor tem de tentar chegar a seu veredito antes da clássica explanação final.
2. Bons personagens
Além de crimes e mistérios instigantes, os romances de Agatha contam com personagens cativantes, humor e boa ambientação. A começar por seus dois maiores detetives. Com pouco mais de 1m60cm de altura, cabeça em formato de ovo e bigodes cultivados com afinco, o belga Hercule Poirot se destaca pela inteligência, que o leva às mais brilhantes deduções. Já Miss Marple é uma aparentemente inofensiva velhinha interiorana que surpreende a todos com sua perspicácia.
Apesar de ter clássicos ambientados em outras regiões do mundo, como Morte no Nilo, é marcante na obra de Agatha a Inglaterra do início do século 20, com sua bem marcada divisão de classes: como na série Downton Abbey, não faltam aristocratas excêntricos, mordomos empertigados e criadas que ouvem mais do que deveriam.
3. Diversão garantida
Com linguagem simples e acessível, os livros de Agatha Christie transitam entre leitores de diferentes idades. E cumprem o que prometem: um mistério que conduz o leitor até o capítulo final, desenrolando uma trama bem elaborada e de fácil compreensão. Uma vez iniciada a leitura de um de seus romances, é difícil abandoná-lo, destaca Ivan Pinheiro Machado, editor da L&PM:
- Com a enormidade de oferta de títulos e autores diferentes, é normal que as pessoas fiquem confusas ao escolher suas leituras. Mas Agatha é diversão garantida: quem gosta de um clássico dela, já começa a ler outro, e assim por diante.
E os fãs podem ir além dos livros. A obra da autora já rendeu adaptações para o cinema, como o clássico do mistério Assassinato no Expresso Oriente (1974), e deu origem a séries dedicadas a Hercule Poirot e Miss Marple.