Hollywood visitou o Oriente Médio para falar da chamada Guerra ao Terror repetidamente no fim da década passada. Mesmo com a badalação em torno de A Hora Mais Escura (2012), o tema parecia ter esfriado. Está de volta com O Grande Herói, que estreia nesta semana no Brasil.
A trama, baseada em fatos reais, é a de uma frustrada operação militar norte-americana no Afeganistão, quando 19 soldados morreram ao tentar matar um líder da Al-Qaeda. Isso em 2005. Marcus Luttrell, o único sobrevivente, escreveu um livro sobre o episódio. O volume inspirou o roteiro assinado pelo cineasta Peter Berg.
Ator sem muito brilho, diretor idem, Berg já fizera antes um filme de ação sobre a caça a um terrorista talibã. O Reino (2007) diferenciava-se na filmografia da Guerra ao Terror ao defender (implicitamente) ações violentas e, desse modo, se distanciar de ideais humanitários e antimilitaristas que marcam os melhores longas da leva, como Redacted (2007) e No Vale das Sombras (2007).
Com O Grande Herói, acontece mais ou menos a mesma coisa. Muito bem filmado, com um desenho de som espetacular (foi indicado ao Oscar), o longa começa apresentando imagens reais dos envolvidos na missão. Logo a história se fecha sobre os quatro enviados ao front (Mark Wahlberg, que interpreta Luttrell, e mais Taylor Kitsch, Emile Hirsch e Ben Foster). Quando eles são flagrados no meio da mata por pastores da região é que a ação efetivamente tem início.
O roteiro de Berg deixa claro que não ter matado os locais significou o fim para o quarteto, pois, livres, eles deduraram os estrangeiros aos talibãs. Além de defender o assassinato de quem até então não demonstrava envolvimento com o conflito, o diretor exagera na exaltação do heroísmo de Luttrell e seus parceiros.
Preocupa-se em justificar a proteção oferecida ao protagonista por outros moradores das redondezas, ao fim de sua jornada, como se aquilo fosse inverossímil. Talvez até seja - para quem tem uma visão tão maniqueísta das coisas. De todo modo, àquele ponto O Grande Herói já está comprometido por sua intolerância e adesão à causa militar. É uma pena para um filme tão impressionante do ponto de vista técnico.
Hollywood visita o Oriente Médio
> Filmes como Redacted (2007), Guerra ao Terror (2008) e Zona Verde (2010) abordam a invasão do Iraque. O documentário Procedimento Operacional Padrão (2008) também. Os dramas No Vale das Sombras (2007) e O Mensageiro (2009) falam do mesmo conflito a partir da visão de familiares dos soldados norte-americanos.
> Jogo de Poder (2010) e A Hora Mais Escura (2012) são longas de bastidores que envolvem as invasões dos EUA no Oriente Médio. Rede de Mentiras (2008) se passa na Jordânia. E O Reino (2007) vai até a Arábia Saudita para narrar a caça a um terrorista - mesmo país para onde é enviado o protagonista de Soldado Anônimo (2005). Os quatro títulos a seguir, por sua vez, são especificamente sobre o Afeganistão.
Leões e Cordeiros
De Robert Redford (2007)
> Três histórias paralelas abordam pontas diferentes da ação dos EUA no Afeganistão.
Jogos do Poder
De Mike Nichols (2007)
> Drama sobre o patrocínio americano da resistência afegã à ocupação soviética.
Um Táxi para a Escuridão
De Alex Gibney (2007)
> Documentário vencedor do Oscar sobre a morte de diversos prisioneiros afegãos, entre eles civis inocentes.
Restrepo
De Tim Hetherington e Sebastian Junger (2010)
> Documentário indicado ao Oscar sobre rotina de posto militar dos EUA no Oriente.