Deve ser muito difícil para uma banda (de qualquer gênero ou idade) existir no mesmo universo que o Black Sabbath. Porque, como se não bastasse sua inesgotável influência e inabalável reputação, o grupo é responsável, hoje, por um dos espetáculos de música mais memoráveis que se pode conceber. Na noite desta quarta-feira, pelo menos 30 mil pessoas testemunharam um dos shows mais poderosos, pesados, emocionantes e tecnicamente impecáveis que Porto Alegre já recebeu.
Começa que o Black Sabbath nem deveria existir. O trio possui uma ficha corrida de abusos químicos tão grande que é um milagre estar vivo - e não só vivo, como cheio de energia e comprometido com sua música. Ozzy Osbourne, a despeito do cada vez mais flagrante problema de mobilidade, canta, instiga e rege a multidão como se tivesse 20 anos de idade; Tony Iommi parece multiplicar sua guitarra e toca cada nota exatamente como nos arranjos originais - o mesmo vale para o baixo de Geezer Butler, vibrando nos ouvidos e articulações do público a cada dedilhado. E Tommy Clufetos, uma locomotiva atrás do kit de bateria, já deu prova suficiente que pode integrar a banda em definitivo.
Outro ponto positivo: a qualidade do som. Além do volume decente, era possível distinguir cada instrumento tocado pelos músicos, algo digno de nota para um local de histórico ruim como o estacionamento da Fiergs. Estranhamente, o show anterior, do Megadeth, não teve a mesma sorte - ou apuro técnico - e sofreu com um som embolado e de qualidade bem inferior.
Como se não bastasse o tesão em tocar e o som perfeito, o Sabbath veio com um set list digno de ser enviado na próxima sonda exploratória da NASA. Abrindo com a sirene de War Pigs, a banda atacou sem piedade com uma sequência de clássicos de fazer o headbanger mais durão chorar no cantinho: Into the Void, Under the Sun, Snowblind, Black Sabbath, Iron Man, N.I.B, Children of the Grave e, claro, Paranoid. Todas atuais e vibrantes, como se tivessem sido gravadas ontem. Quarenta e cinco anos depois de sua fundação, não há uma ruga sequer no repertório do Black Sabbath.
Do novo disco, pinçaram três canções - Age of Reason, End of Beginning e God is Dead? -, que se não empolgaram como as antigas, pelo menos não deram ao público aquela deixa típica para ir ao bar se reabastecer. Do set list que vinham apresentando, ficou de fora apenas Zeitgeist, também do álbum de 2013.
Em duas horas cravadas, Ozzy, Iommi, Geezer e Clufetos separaram em definitivo os homens dos meninos.
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