Em 1975, depois de ganhar reconhecimento por seus primeiros discos solo, Lou Reed lançou Metal Machine Music. Muitos não entenderam, alguns acharam piada. O disco trazia apenas quatro músicas. Cada uma com 15 ou 16 minutos. Não há vocais, apenas distorções de guitarras, texturas e camadas sonoras. Em três meses, o disco foi retirado das lojas.
Muito se disse que Metal Machine Music foi um disco feito para cumprir contrato com a RCA. Reed negava isso, apontando o disco como antecessor dos estilos noise e industrial.
- Metal Machine Music é dedicado à proposta da guitarra como o maior instrumento conhecido ao homem (...). Você não precisa de um vocalista ou um baterista (...). E uma reflexão da glória do rock - disse Reed, em entrevista à BBC.
Em 2002, Reed se espantou ao ver o saxofonista alemão Ulrich Krieger interpretar o álbum. Acabou convidando-o para formar o grupo Metal Machine Trio, que revisitou Metal Machine Music em performances cheias de improvisos. Esse show veio ao Brasil. Reed e seu grupo tocaram nos dias 20 e 21 de novembro de 2010 em São Paulo.
Confira comentário publicado no Segundo Caderno em 23 de novembro de 2010:
por Roger Lerina
O folheto de divulgação do show não iludia ninguém: "Sem canções e sem vocais". Portanto, os muitos que abandonaram no meio o show de 80 minutos de barulho, distorções e microfonias que o roqueiro americano Lou Reed fez sábado no teatro do Sesc Pinheiros, em São Paulo, eram no mínimo desavisados. Acompanhado do saxofonista Ulrich Krieger e do programador de sons eletrônicos Sarth Calhoun, o veterano músico rebelde de 68 anos retomou no palco a ideia de Metal Machine Music, radical trabalho de 1975 em que Reed gravou apenas sons de guitarra distorcidos - obrigação contratual com a gravadora da qual o músico estava se desligando, o disco foi recolhido das lojas na época do seu lançamento, ganhando inclusive o título de "pior álbum de todos os tempos".
Durante quase uma hora e meia, Reed e seus parceiros do projeto Metal Machine Trio tocaram um único tema, uma ruidosa e hipnotizante suíte instrumental que alternava climas mais agressivos com passagens quase tranquilos - evocando um efeito sonoro de caótica beleza.
Quem entendeu a proposta e ficou até o fim - caso do colunista aqui - foi brindado no bis por Reed com uma curta versão de I'll Be your Mirror, do primeiro álbum de seu grupo nos anos 1960, o Velvet Underground, cantada pelo ídolo acompanhando-se na guitarra.
Um bálsamo melódico para quem soube curtir a overdose de dissonância.