Recebi uma dúzia de mensagens sobre minha coluna de estreia, em que listei o que não vou escrever. Alguns dos meus leitores (ou não leitores, já que não escrevi coisa alguma) disseram que estavam aliviados por conhecer os temas que não estavam em minha pauta e sugeriram mais interdições.
Uma não leitora pediu: "Por gentileza, não escreve sobre desgraças". Minha filha mais velha, cansada de minhas incursões amadoras na área do comportamento animal, solicitou: "Não escreve sobre hienas". Ok: desgraças e hienas estão fora. Já um amigo escritor advertiu: "Adorei saber sobre o que você não vai escrever, mas confesso que fiquei curioso em saber sobre o que você vai escrever".
A maioria das mensagens continham sugestões. Uma delas chega a aconselhar: "Desenha, Gerbase, desenha! Pra esse povo, só desenhando". Mas o problema continua: o que desenhar? E eu nem sei desenhar! Um fã dos Replicantes pede que eu fale sobre "como sobreviver ao coração partido por uma terrorista sandinista especialista em granada de mão".
Contudo, quem tem que tratar desse assunto é meu amigo Jimi Joe, autor da letra citada. Eu poderia escrever sobre surfistas calhordas, mas estou longe das ondas faz tempo. Já um conhecido publicitário, meu colega de faculdade e exímio jogador de botão, quer que eu publique a escalação do seu time. Infelizmente, a editoria de ZH ainda não respondeu se esse assunto está liberado.
E as dicas se sucedem: eu deveria escrever sobre cinema, rock'n'roll, tocar bateria, dar aulas, sobre meus amigos (que supostamente renderiam histórias "cavernosas"), sobre reuniões de condomínio, política, trânsito, razões para viver e sobre a inutilidade das regras. O mais experiente DJ da cidade assoprou: "Simplesmente escreve". Uma amiga psicóloga, talvez prevendo uma depressão por falta de assunto, propôs: "Escreve assim mesmo".
Pensei em escrever outra coluna sobre o que não escreverei, mas todos sabem que a história, mesmo que apenas um mês depois, sempre se repete como farsa. Aí vieram as dicas do meu irmão que mora fora do país e tem, portanto, a chamada distância crítica para ver o que interessa aos brasileiros: "Escreve sobre os mistérios da vida após a morte, ou Malba Tahan, ou a origem dos chatos". Nada disso me motivou. Então ele mandou a derradeira dica: "Quem sabe sobre o Tio Chico?". E a luz se fez! Escreverei sobre o Tio Chico. E, daqui a um mês, finalmente, estreio de verdade.