Antes do boom das redes sociais, a experiência de ver TV sempre foi algo restrito ao lar. Sentado no sofá da sala, o telespectador conversava com quem estava ao seu lado ou em outro cômodo. Agora, o hábito ultrapassou as paredes de casa. Quem deseja trocar impressões e opiniões sobre qualquer atração encontra no universo virtual um grande fórum instantâneo.
Um olho na TV, outro no computador: cresce o fenômeno chamado segunda tela
- A verdade é que muitas pessoas já não viam mais TV em tempo real. Há ofertas de streaming, DVDs, downloads, legais ou não. O advento da TV social é este: o prazer de compartilhar. Muitas emissoras já estão ligadas nisso - explica Sheron Neves, professora especializada no tema.
O HBO já se lançou como um dos canais que sabe explorar muito bem a segunda tela. A série Game of Thrones, por exemplo, é exibida no Brasil e nos Estados Unidos no mesmo dia e hora. Nos comerciais, a emissora conclama os fãs a usar expressões específicas para falar do episódio do dia. Viciada na trama de fantasia, a própria Sheron não se contenta em participar do debate só com os amigos brasileiros: ela abre a segunda tela para ler o que telespectadores gringos estão comentando sobre a série.
- A televisão está presente em 99% das casas no Brasil. É o que todos têm em comum, é um grande agregador - diz Fábio Canatta, professor da PUCRS. - Já as redes sociais são uma conversa pautada pelo caos, é desordenada. No momento em que todos estão falando sobre a mesma coisa, a experiência do telespectador fica mais complexa.
Do #oioioi ao #levantairina
Salve Jorge, atual novela do horário nobre da Globo, pode até ser cheia de defeitos - e é. Casais transam em igrejas desertas na madrugada, e pessoas entram em elevadores para melhorar o sinal do celular, entre outras incoerências. Mas, se tem algo que dá sabor extra ao folhetim, é a participação engajada da autora nas redes sociais.
Gloria Perez (@gloriafperez) não desgruda do Twitter durante a exibição de seus capítulos. Responde dúvidas dos telespectadores, engata papos com quem elogia a trama e até bloqueia críticos insistentes. Em dias inspirados, a autora chega a alterar capítulos conforme as manifestações. Foi o caso da personagem Irina, de Vera Fischer, que sempre aparecia sentada para disfarçar o sobrepeso. A campanha #levantairina foi atendida: a atriz gravou uma cena em pé.
Com postura menos participativa, o autor João Emanuel Carneiro, responsável pelo hit Avenida Brasil, passou longe de qualquer rede social no ano passado. Nem por isso sua história deixou de ser um fenômeno de segunda tela. No capítulo final da novela, por exemplo, os 10 primeiros trending topics no Brasil (assuntos mais comentados do Twitter) eram relacionados à trama. E, curiosamente, a hashtag mais usada nos meses em que a novela ficou no ar não foi a clássica #AvenidaBrasil, mas, sim, #oioioi, expressão que se popularizou entre os fãs.
Os próprios atores da Globo já descobriram o poder de um tweet em tempo real para gerar burburinho a respeito de sua própria figura. Luana Piovani
(@sigapiovani) conclamou, por muitas noites, seus seguidores a assistir à Guerra dos Sexos quando ela aparecia. O mesmo fez Carolina Dieckmann (@cadieckmann), incitando a audiência a comentar suas cenas em Salve Jorge.
