Atualmente sem endereço fixo, a galeria Fita Tape deu início ao projeto de levar exposições para outros espaços. A primeira parada é o Museu do Trabalho, que apresenta a mostra Descolagem #1. A coletiva reúne trabalhos de artistas representados pela Fita Tape, como Luis Flavio Trampo, Mateus Grimm, Carla Barth e Bruno 9Li. O curador é Lucas Ribeiro "Pexão", nome ligado ao cenário que reúne sem divisões artistas de formação mais acadêmica e artistas com origem no grafite, nos quadrinhos e na arte urbana.
Em Porto Alegre, ele comandava a Galeria Adesivo. Depois, abriu a Fita Tape, que funcionou em uma sobreloja na Avenida José Bonifácio até julho de 2012 e hoje está concentrada no site www.fitatape.art.br. A seguir, Pexão fala sobre a exposição, as relações entre público e mercado da arte e suas experiências em Porto Alegre e São Paulo, onde é sócio da galeria LOGO.
Zero Hora - Como foi concebida esta mostra que marca a estreia da itinerância da Fita Tape?
Pexão - Busquei dar continuidade ao programa curatorial da galeria, mesmo fora dela. A coletiva acompanha a produção recente de artistas que trabalham com a Fita Tape e busca concentrar o que aconteceria nela ao longo de vários meses. Não é uma retrospectiva, e sim uma adaptação de formato, no espaço e no tempo, para manter o projeto em movimento. A escolha dos artistas e das obras mostra a diversidade e a relevância do que acontece na galeria em pintura, desenho, gravura e fotografia/performance, mas também evidencia uma atitude em comum quanto ao fazer artístico. São artistas que, cansados da pretensão e dos "comentários" vagos de grande parte da produção contemporânea, buscam criar obras autossuficientes a partir de linguagens visuais amplamente difundidas na sociedade.
ZH - Uma galeria ainda necessita manter um espaço físico?
Pexão - Existem galerias e feiras de arte digitais, algumas promissoras, mas ainda é uma experiência diferente. Uma galeria tem um endereço, é um lugar onde você encontra pessoas, olha e discute arte, conversa com o artista, com o curador. Como acontece com a arte, a galeria pode assumir diferentes formas, virando espaço para música, para festa, para ensino. Enfim, para obras de arte materiais, um espaço físico é insubstituível. E ainda acredito que exposições de arte são uma ótima razão para sair um pouco da frente do computador.
ZH - Apesar das feiras de arte, o funcionamento do mercado artístico permanece distante do conhecimento do grande público?
Pexão - O público não conhece o o mercado da arte e sua importância para viabilizar a carreira dos artistas e garantir a existência das obras porque não teve a oportunidade de conviver com arte relevante em casa. Não tem nada de novo nisso, é um sistema em andamento há séculos e, até hoje, ativo pelo mundo. Mas em algum momento, talvez nos anos 1990, parou de funcionar efetivamente em Porto Alegre, afastando muitos artistas da cidade.
ZH - Quais são as diferenças entre os trabalhos realizados pelas galerias Fita Tape e LOGO?
Pexão - É principalmente uma diferença de escala. A Fita Tape é um laboratório para muito do que depois apresento na LOGO. Em São Paulo, não consigo trabalhar tanto com artistas novos no mercado, pois os gastos da galeria são realmente altos. O público é parecido nas duas galerias, porém, em São Paulo, recebo colecionadores diariamente, inclusive gaúchos, o que é bem mais raro em Porto Alegre.
Descolagem #1
> Visitação até 12 de maio, de terça a sábado, das 13h30min às 18h30min, e domingos e feriados, das 14h às 18h30min. Segunda-feira, fechado.
> Museu do Trabalho (Rua dos Andradas, 230), em Porto Alegre, fone (51) 3227-5196.
> A exposição: conta com trabalhos em diferentes linguagens e suportes, realizados por artistas representados pela galeria Fita Tape.