Entre os nomes que serão considerados este ano pelos integrantes da Academia Sueca, que concede o Prêmio Nobel, estará o de um poeta gaúcho. A indicação de Luiz de Miranda foi encaminhada para a academia pela Pontifícia Universidade Católica (PUCRS).
A princípio, falar em "indicação" para o Nobel parece um tanto estranho, mas existe, sim, um processo de encaminhamento de nomes para a Academia. Todos os anos, ex-ganhadores do Nobel enviam indicações de outros potenciais laureados. Membros da Academia também indicam candidatos, bem como instituições universitárias ou ligadas à arte da escrita. Uma dessas instituições no Brasil é a seção local do Pen Club, que congrega escritores e estimula a criação literária e que submeteu o nome de Ferreira Gullar, em 2012. Neste ano, o Pen Club indicou Gullar de novo, ao lado de Ariano Suassuna.
No caso de Miranda, a ideia da indicação ao Nobel de literatura partiu do professor Eduardo Jablonski, admirador de longa data do poeta e autor de sua biografia, Luiz de Miranda: O Senhor da Palavra (EdiPUCRS, 2010). Jablonski, professor de idiomas, consultou oficialmente Jerônimo Braga, diretor da EdiPUCRS, que é também a atual editora de Miranda, que vem publicando seus livros, dois por ano.
Com a intermediação da editora, a PUCRS assumiu a indicação do poeta. Um texto de 10 páginas, em inglês, foi elaborado e enviado para a Academia Sueca, apresentando uma sucinta biografia e considerações críticas sobre sua obra - o próprio Miranda reforça o fato de que, em número de versos, ela é a mais extensa do mundo.
A Academia respondeu aceitando. Mas, sobre as chances ou mesmo a apreciação da Academia, não há como especular. Embora aceite indicações, a Academia as mantém em sigilo por meio século.
Três perguntas para Luiz de Miranda,
candidato ao Nobel de literatura:
Zero Hora - Qual a sua expectativa de vitória?
Luiz de Miranda - No ano passado, indicaram o Gullar, que vai de novo este ano pelo Pen Club. E eu vi um debate com intelectuais em uma tevê de São Paulo em que diziam que o Gullar não tinha chance nenhuma diante do inglês tal, do francês tal... Deu um chinês que eles não tinham comentado. Então, a Academia não vai por mídia, "o célebre escritor francês fulano de tal". Ela vai por obra. E tenho a obra mais extensa do mundo, tenho um livro publicado na França. Eu tenho obra.
ZH - Então, o senhor tem perspectivas de vencer?
Miranda - Eu não tenho prognósticos, não fico esperando nada do Nobel. Em outubro, eles dão o resultado. Mas acho que o fato de eu ter sido apontado ao prêmio já é uma consideração extremamente preciosa para mim, que saí lá da beira do Rio Uruguai.
ZH - O que o senhor diria no seu discurso de aceitação?
Miranda - Diria que cumpri com o meu dever. Acho que sou um autor honesto, não pertenço a grupos, sempre andei sozinho. E tenho, segundo o Carlos Heitor Cony, a melhor fortuna crítica do país. Recebi elogios dos maiores pensadores do Brasil: Antonio Houaiss, Drummond, Ferreira Gullar, Nelson Werneck Sodré, para citar só quatro. Internacionalmente, o espanhol Perfecto Cuadrado disse que eu era um dos melhores poetas do mundo. Então, se fosse premiado, diria que cumpri com meu dever. Eu escrevi. Eu não fico falando que vou escrever, eu escrevo.