Seis idiomas fluentes na ponta da língua são de grande ajuda para abrir portas mundo afora. Em especial as que costumam ser mais difíceis de ser transpostas quando se é um ator latino-americano que pensa em brilhar no cinema internacional como protagonista. Édgar Ramírez, venezuelano de 35 anos, consolida com papéis de destaque em filmes de diferentes gêneros e nacionalidades a fulgurante ascensão iniciada em 2010, quando foi aclamado por sua performance em Carlos, épico biográfico sobre o terrorista Carlos, o Chacal.
Dois dos trabalhos mais recentes de Ramírez podem ser conferidos em Porto Alegre. No drama francês de De Coração Aberto, ele e Juliette Binoche vivem um casal de cirurgiões cardíacos que tem o caloroso relacionamento deteriorado pelo comportamento autodestrutivo dele, alcoólatra com temperamento ciclotímico. E no thriller americano A Hora Mais Escura, que concorreu ao Oscar de melhor filme, seu papel é o de um agente de campo da CIA que ajuda a localizar o esconderijo de Osama bin Laden.
- Eu me vejo como ator global, que é mais do que ser um ator internacional. Não quero apenas que os filmes que faço nos Estados Unidos sejam vistos em todo o mundo. Busco trabalhos que me levem a conhecer diferentes temas e culturas, a apresentar outras cinematografias, sobretudo a latino-americana. Não tem mais sentido um ator ser classificado por sua nacionalidade - diz Ramírez, por telefone, de Caracas, cidade base de sua ponte aérea com Nova York.
Filho de um militar com atuação na área diplomática, Ramírez viveu sua juventude em diferentes países - além do espanhol, fala inglês, francês, italiano e alemão. Pensou em também seguir carreira na diplomacia, mas formou-se em jornalismo. Já trabalhava como jornalista quando estrelou um curta-metragem de amigos que foi visto pelo roteirista mexicano Guillermo Arriaga. Este lhe recomendou a Alejandro González Iñárritu, que se preparava para filmar Amores Brutos (2000). Ramírez, porém, ainda não se interessava em levar tão a sério a vida de ator, pois tinha no horizonte uma imersão acadêmica - no filme que obteve grande repercussão internacional, o papel oferecido ao venezuelano acabou por revelar Gael García Bernal.
Até então, a experiência de Ramírez diante da câmera trazia pequenos papeis um produçõs da TV venezuelana. logo em seguida se transformaria num popular astros de telenovelas em seu país. O incentivo de Arriaga o fez encarar a vida de ator e partir de 2002, Ramírez tornou-se um popular galã de TV em seu país.
A estreia em Hollywood foi direto no filme de um diretor comhecido, Tony Scott, em Domino - Caçadora de Recompensas (2005), no qual atou ao lado de Keira Knightley e Mickey Rourke. Fez ainda um vilão em Ultimato Bourne (2007), de Paul Greengrass, e driblou o estereótipos de tipos que engessam latinos em Hollywood ao realizar na França Carlos, biografia do terrorista venezuelano Ilich Ramírez Sánchez, conhecido como Carlos, o Chacal. O telefilme com seis horas de duração dirigido por Olivier Assayas teve lançamento em sessão especial no Festival de Cannes, onde foi aclamado pela crítica. Carlos valeu a Ramírez o prêmio César de ator revelação uma indicação ao Globo de Ouro como melhor ator de telefilme ou minissérie, além de dezenas de propostas tentadoras.
- A Kathryn Bigelow havia me chamado para o projeto que ela faria na Tríplice Fronteira e que acabou adiado quando ela se dedicou à realização de A Hora Mais Escura. Fiquei feliz por ela me manter nos planos. É uma diretora de muita coragem, e a controvérsia provocada por A Hora Mais Escura mostra isso. O filme é de um realismo raro no cinema americano, com personagens retratados sem o maniqueísmo tradicional que separa mocinhos e bandidos. Ali estão todos numa zona de sombra. Já Coração Aberto exigiu de mim e de Juliette Binoche um enorme empenho emocional - explica Ramírez, que será visto em breve no papel de Simón Bolívar (1983 -1830), em Libertador, coprodução entre Venezuela e Espanha sobre o líder venezuelano que comandou a luta pela independência de vários países sul-americanos colonizados pela Espanha.
- Estou muito orgulhoso deste projeto. É o mais grandioso filme já feito na América do Sul (orçamento de US$ 50 milhões).
O foco de Ramírez de seguir trabalhando onde os bons roteiros e os bons personagens o levarem tem alvo no Brasil, onde pretende fazer algo após realizar filmes como Corpus Christi, do americano Richar Kelly (autor do cult Donnie Darko).
- Gosto muito do país e do cinema feito aí. Conheço ótimos atores brasileiros, como o Rodrigo Santoro, com quem trabalhei em Che, e o Selton Mello, que dirigiu um filme muito bom, O Palhaço. Mas, por enquanto, tem só minha vontade.