A multidão preenchia todos os espaços junto ao castelo em Edimburgo, onde se realizaria mais um espetáculo do "tatoo" - a maior parada folclórica da Escócia. Do alto da arquibancada tinha a visão total da esplanada onde se apresentariam os grupos folclóricos, tendo ao fundo os muros do Castelo de Forsyth.
Músicos. Bailarinos. Soldados.
Os organizadores conseguiram escalar os espetáculos em ordem crescente. Cada um mais belo que o outro. Emoções se multiplicando. Luar magnífico contribuía para destacar o jogo de luzes sobre as evoluções. Bailarinos saltimbancos. Soldados garbosos marchando ao som marcial. Grupos mostrando particularidades de cada região da Escócia, e alguns conjuntos especialmente convidados destacavam o modo de viver e sentir em vários países.
A apoteose se aproxima e as luzes se apagam. Nada se vê. O silêncio paira sobre a multidão quando o primeiro acorde da gaita de fole soa plangente como se evocando antepassados para um ritual mágico. Por alguns momentos, só aquela música, o ser estimulado ao extremo pela audição.
Num átimo a luz do holofote destaca a figura sobre o muro do castelo, sozinha, como se ela fosse o último baluarte de seu povo, com sua música pungente lembrando como é fácil a comunicação.
Um homem, a gaita de fole, a música, e a multidão integrada por pessoas provenientes de tantas partes do mundo, falando tantos idiomas, pensando tantas coisas, e entendendo que ele saudava a fraternidade. Caminhou ele sozinho por sobre o muro em uma direção e voltou. As luzes explodiram multicoloridas. Orquestras soaram em uníssono, sobressaindo-se às gaitas de fole. Os fogos de artifício explodiram no céu enluarado, sobre todos os grupos folclóricos que entoavam seu hino à amizade ocupando a esplanada.
A multidão ao meu redor delirava, aplaudindo quando a solidão novamente tomou conta de mim, e lágrimas rolaram pela face. Ela não estava ao meu lado. Percebi pela enésima vez a armadilha que a profissão de jornalista me pregava, ao me cobrar o preço tão alto de sua ausência para me mostrar as maravilhas do mundo. Sabia o que tinha de fazer, não importava onde estivesse: falar com ela. Telefonar-lhe. Ouvir sua voz era como se eu pudesse fazer a ligação da beleza ainda turbilhonando minhas emoções e sua presença. Então, e sempre, fui feliz completamente.
* Jornalista
P.S.: em 2012, a Royal Edinburgh Military Tattoo (3-25 agosto) ocorrerá novamente em Edimburgo, integrada às cerimônias em comemoração ao Jubileu de Diamante da Rainha Elizabeth e da programação do Ano Escócia Criativa.
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