Uma banda de heavy metal gaúcha teve a honra de tocar com Paul Di'Anno em algumas turnês pelo Brasil. A Scelerata, de Porto Alegre, foi selecionada pela produção do ex-vocalista do Iron Maiden — cuja morte, aos 66 anos, foi anunciada nesta segunda-feira (21) — para acompanhá-lo durante alguns shows entre 2009 e 2014, inclusive pelo interior do Rio Grande do Sul.
Em 2008, Paul Di'Anno, que já não fazia parte do Iron Maiden desde 1981, procurava por uma banda de apoio. Foi aberta uma convocação para que os grupos mandassem material de apresentação. Formada em 2002 em Porto Alegre e com repertório autoral, a Scelerata – que hoje se chama Rage in my Eyes – foi selecionada.
— Ele queria uma banda que já existisse, não uma que fosse montada só para tocar com ele. O Paul tocava muito com bandas cover de Iron Maiden, e acho que ele tinha cansado disso. O guitarrista da nossa banda na época, o Renato Osório, viu esse anúncio do Paul Di'Anno. Acabamos sendo selecionados — conta Francis Cassol, 45 anos, que foi baterista da Scelerata e hoje vive na Califórnia, Estados Unidos.
No Rio Grande do Sul, Paul e a Scelerata tocaram em Porto Alegre, Frederico Westphalen, Passo Fundo, Caxias do Sul, Torres e Erechim, shows que ocorreram entre 2009 e 2014. Pelo Brasil, passaram por Manaus, Brasília e Rio de Janeiro, entre outras capitais. Em 2012, a banda lançou o disco The Sniper, que tem participações especiais do vocalista inglês, nascido em Londres, na Inglaterra, mas que vivia em Salisbury, onde faleceu.
— O Paul sempre foi um ídolo, um herói de infância, porque crescemos ouvindo os primeiros discos do Iron Maiden. Foi surreal tocar com ele. Em 2009, não acontecia isso de uma banda brasileira tocar com um artista internacional. Hoje é mais comum, mas na época foi uma coisa nova. E ele sabia muito bem o que queria. Sempre teve uma raiz bem punk rock, e a gente era mais metal, e o Paul queria as músicas mais aceleradas e mais cruas. Tivemos um período de adaptação para entender o que ele queria, mas depois disso deslanchou — recorda Francis.
Todos os shows da Scelerata com Paul Di'Anno foram produzidos pela Abstratti, de Ricardo Finocchiaro. Aos 45 anos, o produtor relembra com emoção a experiência ao lado do ícone do heavy metal, alguém de quem sempre foi fã e que teve o privilégio de conhecer.
— Eu era fã de Iron Maiden e tive a oportunidade de fazer turnês brasileiras com o Paul. Foram mais de 50 shows em todos os lugares do Brasil: Manaus, Fortaleza, Rio de Janeiro, Porto Alegre e várias cidades do interior. Desenvolvemos uma amizade — diz.
Ex-guitarrista da Scelerata e neto do cantor Teixeirinha, Magnus Wichmann, 46 anos, lembra-se de quando o jornalista Tulio Milman, então apresentador do programa Teledomingo, da RBS TV, levou Paul Di'Anno para tomar chimarrão em um CTG, em 2010.
— Para o Paul, tudo estava muito legal. Ele gostava de tudo. Sempre foi uma pessoa do bem, legal com todo mundo. E éramos bem profissionais. Ficávamos ensaiando durante um mês. Quando ele chegava aqui, nós já estávamos bem preparados. E cada show foi uma história diferente. Ele tinha fome de palco. Para ele, não tinha ruim. Tocava em tudo quanto era lugar, fazia muitos shows por ano. Me senti honrado de fazer parte da banda dele — diz.
