Desde que surgiu em 2005 com o primeiro disco autointitulado, Céu se posicionou com uma das protagonistas da música brasileira. Agora, ela sublinha que também é a personagem principal da própria novela.
Aliás, Novela é o nome do álbum que a cantora lançou em abril. A turnê de mesmo nome desembarca a Porto Alegre neste sábado (2). Previsto originalmente para 22 de junho, mas adiado por conta da enchente, o show será realizado a partir das 21h, no Opinião.
O disco, produzido por Pupillo e Adrian Younge, foi gravado analogicamente e ao vivo em Los Angeles e traz traz 12 faixas, com participações internacionais de nomes como Ladybug Mecca (Digable Planets), Anaiis e Loren Oden.
No Opinião, a apresentação será realizada por uma banda composta por bateria, guitarra, cavaquinho, baixo e percussão. Além do novo álbum, faixas de outros trabalhos de Céu também devem entrar no repertório.
— Estou tão feliz em estar de volta, nesta cidade musical e receptiva para caramba. Sempre fui muito bem recebida, especialmente no Opinião, onde amo tocar. É muito gostoso — diz a cantora.
Zero Hora conversou com a artista sobre o novo disco. Confira abaixo.
Como foi a concepção de Novela?
Para mim, o disco sempre começa quando estou com um punhado de canções no bolso, vontade de contar novas histórias. Com Novela não foi diferente. O grande diferencial desse álbum é o fato de eu trabalhar pela primeira vez com Adrian Younge, em Los Angeles. Isso tornou Novela uma aventura, porque não tinha dinheiro para ficar muito tempo por lá. Era pá-pum. O que dificultava tudo um pouquinho era o fato de tudo ser analógico. Então, foi um momento mais curto, porém intenso. É um disco mais real.
Por que você decidiu utilizar a gravação ao vivo para Novela?
Adrian só trabalha assim, é a filosofia de vida dele. Um jeito de lidar com o que se tem, viver o momento. Para ele, o que a gente tem é suficiente. Foi um desafio, pois era sem correção, sem computador, era o que é. Isso me revelou muito da arte de quem eu sou. Estou inteira nesse disco.
Novela, então, pode ser visto como um salto para aquilo que você trabalhou em APKÁ (2019)? Que é um trabalho com mais elementos eletrônicos.
Já brincava com isso no Tropix, em 2016, que a capa traz eu meio robotizada. É um olhar mais frio e preto e branco: ó, estamos virando isso. O APKÁ também, falando da inteligência artificial se encantando com o humano. Quando chego no Novela, isso tudo já se consolidou, e eu parto para uma aventura 100% humana. Penso que minha arte é muito política, talvez de um jeito diferente que as pessoas esperem de artistas. Minha arte vai sempre acompanhando, indagando e instigando a contemporaneidade. Fazer um disco assim, sem nada (tecnologia), acaba se tornando extremamente político.
Especialmente em um momento em que o uso da inteligência artificial na música ganha força...
Exato! Daqui alguns anos, a gente não sabe nem se a nossa profissão vai viver com a IA. Fazer um disco assim é 100% contracorrente (risos).
Into My Novela você canta em inglês e português, fazendo um convite para alguém entrar em sua novela. Você assinala: “Eu sou a protagonista da minha novela”. Como seria essa novela?
Acho que Into My Novela é uma canção sobre o seguinte: eu quero ter você do meu lado, quero viver com você, quero que você me traga sua vida, mas eu quero que saiba que aqui é a minha novela e sou protagonista. Acho que é um recado feminista importante que eu quis trazer.
Aliás, Gerando na Alta aborda o poder da amizade feminina.
Nas minhas amizades femininas, há um lugar de escape e de segurança que acho bonito. A gente extravasa e fala coisas muito profundas, e eu me sinto muito carregada quando saio dessas conversas. Mas é também uma celebração de qualquer amizade. É sobre aquela família que a gente escolhe.
Lustrando Estrela tem um pegada de rock brasileiro setentista. Como foi trabalhá-la com Younge e que referências você buscou para essa faixa?
Foi a primeira música que escrevi do Novela, então tenho um carinho especial por ela. Lustrando já veio com essa pegada de banda de rock de garagem desde o início. Tem uma cara de rock inglês antigo, ao menos tempo traz essa coisa do soul, que é algo que o Younge sempre traz muito.
Reescreve foi composta em parceria com Marcos Valle. Como é sua relação com ele e como essa faixa entrou no disco?
Sou muito amiga do Marcos há anos. Ele é um gênio! Além de tudo, é um homem muito gentil, que não tem um ego gigante. Logo que eu comecei, a gente fez uma turnê pelo Brasil, cantando as músicas dele e algumas minhas. Desde então, somos amigos. Foi ideia do Marcos fazermos uma música para o Túnel Acústico (a faixa Não Sei), disco dele que saiu este ano. Como ele me convidou, pedi uma para meu álbum também. A gente fez essa troca.
Novela teve uma turnê considerável, com shows no Brasil, Europa e América do Norte. Como tem sido a vida na estrada?
Minha vida na estrada é uma grande loucura. Aprendi a lidar, são várias regras que sigo para não dar ruim. Eu não tenho mais 20 anos (risos). Quando você está na casa dos 20, tudo é lindo. Depois, parece tudo performance de alto impacto, você tem que estar muito forte. Eu sou mãe, tenho duas crianças, administro uma vida normal. Não sei como faço, honestamente. É uma loucura! Filha na escola, é reunião, é turnê. Mas faço tudo com muita alegria. É bom ir e é bom voltar.
Céu - Novela
- Sábado (2), às 21h, no Bar Opinião (Rua José do Patrocínio, 834).
- Ingressos: a partir de R$ 95 (solidário, 4º lote, mediante doação de 1kg de alimento não perecível).
- Pontos de venda sem taxa: Loja Planeta Surf Bourbon Wallig (Av. Assis Brasil, 2.611), das 10h às 22h, somente em dinheiro.
- Ponto de venda com taxa: pela plataforma Sympla.
- Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante e acompanhante sobre o valor inteiro do ingresso.