Um dos grandes nomes do rock gaúcho, Zé Flávio, integrante da banda Almôndegas, morreu na madrugada desta quinta-feira (31), aos 71 anos, em Porto Alegre. De acordo com o amigo e colega da banda Os Totais, Inácio do Canto Rocha, há três meses, o músico foi diagnosticado com câncer no reto. Zé Flavio teria começado o tratamento mas, em razão do estágio avançado da doença, não resistiu.
Um dos irmãos de Zé Flávio, Antônio Carlos Pina Oliveira, conhecido como Pina, 66 anos, contou que o irmão passou os últimos dias recebendo cuidados na casa da irmã deles, Maria Lúcia.
— Em 60 dias, o câncer avançou e ele se foi. Foi tudo muito rápido. Há 10 dias, ele estava sofrendo muito, com dores, uso de morfina, não conseguia se alimentar direito e nem tomar água. Agora, ele descansou — acredita o irmão.
Conforme Pina, Zé Flávio será lembrado como um gênio à frente do seu tempo:
— Um excelente profissional que sempre queria tocar. Ele era um gênio, agitado. Para ele, só existia música no mundo. Tinha muitos amigos e era muito querido. Um gênio espirituoso. Foi um privilégio conviver com esse lado musical. Ele nasceu músico e morreu músico.
Segundo o amigo Inácio, que conhecia o guitarrista há 57 anos, Flávio estava feliz com o retorno da banda Almôndegas, que se apresentou na Capital em março deste ano. O grupo tem novos shows marcados para 1º de dezembro em Porto Alegre e dia 3 de dezembro em Pelotas. Zé Flávio deixa a esposa, Ester, e os três irmãos, Maria Lúcia, André e Pina.
O velório será nesta sexta-feira (1º), no Angelus Memorial e Crematório (rua Porto Alegre, 320), na Capital. A cerimônia será realizada entre 12h30min e 14h30min.
Trajetória de impacto
Além de guitarrista, Zé Flávio foi o compositor de pelo menos três clássicos dos Almôndegas, Sombra Fresca e Rock no Quintal, Canção da Meia-Noite e Amor Caipira e Trouxa das Minas Gerais.
A primeira banda liderada por ele foi a Mantra, de rock instrumental, sucesso nos concertos Vivendo a Vida de Lee, de 1975 a 1977. Depois, passou a integrar, no Rio de Janeiro, a última formação dos Almôndegas, que gravou outras canções suas.
Por breve tempo, chegou a tocar no Bixo da Seda e na banda carioca O Peso, antes de ser convocado para acompanhar Kleiton & Kledir em shows e discos — é dele o solo de guitarra em Deu Pra Ti, por exemplo.
E de 1987 a 2000, seus solos, riffs e caretas ajudaram a consagrar um dos mais notórios grupos de covers da noite porto-alegrense, Os Totais, que chegou a lançar um CD em 1998. A última apresentação da banda foi começo deste mês, em Porto Alegre, com Zé Flávio tocando, mesmo debilitado.
Fã de Carlos Santana, em 2017, depois de ultrapassar 40 anos de estrada, lançou o primeiro disco solo, com o nome Zé Flávio na capa, o Fingerprint. Na época, em entrevista a GZH, falou que o disco tem uma cornucópia de coisas, pois durante muito tempo tocou covers. Também que era totalmente anos 1970, que ele não havia saído de lá ainda. E que havia nascido para tocar em banda.