Haverá uma dupla comemoração no Sarau do Solar Especial, promovido pela Assembleia Legislativa do RS, nesta quarta-feira (27) no Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n°), em Porto Alegre. Por um lado, é uma homenagem aos 165 anos do próprio TSP. Por outro, é uma celebração às cinco décadas de carreira da cantora Loma Pereira. Ela sobe ao palco às 19h, e a entrada é mediante a doação de 2kg de alimento não perecível.
No espetáculo intitulado Loma Pereira – 50 Anos de Trajetória, a cantora estará acompanhada por uma banda formada por oito mulheres: Tamiris Duarte (direção musical e baixo), Mel Souza (teclado), Ana Matielo (violão), Bibiana Turchiello (violino), Paloma Trevisan (acordeom), Beth Abreu (bateria), e Pâmela Amaro e Thayãn Martins na percussão. O show também contará com participações especiais: a violonista Andrea Perrone e o projeto Líricas Sulinas (Clarissa Ferreira, Nina Fola e Emily Borghetti, além de Ana e Tamiris).
O repertório terá como foco a música regional gaúcha e afro-litorânea, contando com obras premiadas nos festivais a partir da década de 1980. Portanto, estão previstas canções como Céu, Sol, Sul, Terra e Cor (Leonardo), Preto Velho Celestino (Telmo de Lima Freitas), Guarany (Fabio Peralta/Xirú Antunes), Curumim (Chico Saga), Parentes na África (Cao Guimarães), Quilombos (Pedro Guerra/Heleno Cardeal) e Chinaredo de Alpargatas (Ana Matielo/Brenda Billman/Clarissa Ferreira/Isabel Nogueira/Marília Kosby/Pyetra Hermes), entre outras.
— É uma comemoração e tanto! São 50 anos de trabalho ininterruptos — celebra Loma. — Quem me manteve na cena foi o público. Então, vou prestar uma homenagem reunindo canções ao gosto desse público. Ao mesmo tempo, evidenciando a presença da mulher, com musicistas talentosas e aplicadas. Preparamos com muito carinho e esmero essa apresentação.
Loma nasceu há 69 anos em Recife (PE), mas veio para Porto Alegre ainda bebê. Ela recorda que começou a cantar aos 12, no coral da escola Jesus de Nazaré. Até que um dia esse coral foi convidado para participar da ópera Aida, de Verdi, no Auditório Araújo Vianna. A partir dali, Loma decidiu ser cantora. Passou a vivenciar o meio dos músicos e cantores, participando de programas infantis e jingles. Mas a profissionalização veio mesmo após ser convidada para integrar o Grupo Pentagrama, aos 19 anos.
Contando com Jerônimo Jardim, Ivaldo Roque, Yoli e Tenison Ramos, além da cantora, a banda se notabilizou por dialogar com o rock e a MPB, mas permeando temas e ritmos regionais. Foi nesse momento que Loma considera que começou mesmo o seu trabalho, viajando em turnê pelo interior do Rio Grande do Sul. Após o lançamento de seu único disco, em 1976, o Pentagrama se dissolveu.
Já em carreira solo, Loma foi para o Rio de Janeiro, onde estudou teoria e solfejo. Também passou a percorrer o Brasil. Segundo a artista, ela queria conhecer os sentimentos de outros Estados em relação à cultura. A cantora conta que voltou para casa buscando suas raízes, que foi encontrar no Litoral Norte — sua mãe é de Santo Antônio da Patrulha —, no Maçambique de Osório, o seu lar e veia africana. Mais tarde, ela integraria o grupo Cantadores do Litoral, dedicado à música afro-açoriana.
Enquanto mulher e negra, Loma se destacou pelo pioneirismo nos festivais produzidos no RS. Ao longo de sua trajetória, a cantora obteve seu posto em um universo de predominância masculina.
— Não éramos muitas mulheres. Consegui me consagrar na questão da qualidade mesmo, tinha um bom repertório e cantava bons compositores — recorda. — O espaço que conquistei foi tão importante que, assim que retomei o conhecimento da minha cultura de raiz africana, eu levei para os festivais e isso foi muito bem aceito. Comecei a divulgar e conscientizar nos eventos a respeito dessa diversidade.
Consequentemente, o trabalho de Loma serviu de incentivo às prendas das invernadas dos CTGs. A cantora lembra de receber cartas requisitando fitas K7 com as músicas que ela cantava nos festivais.
— Jamais deixei de enviar uma fita com letras para as meninas. Outras colegas faziam o mesmo. Umas deram as mãos para as outras. A mulher veio ao longo desses 50 anos conquistando o seu espaço e dizendo a que veio. Não fiz sozinha — avalia Loma.
Ao longo de sua vasta trajetória, Loma dividiu os palcos e gravações com nomes como Elza Soares, Gilberto Gil, Kleiton e Kledir (a voz dela está no hino porto-alegrense Deu pra Ti), Bebeto Alves, entre outros. Aliás, a cantora acumula prêmios e homenagens: no final dos anos 1980, recebeu o Troféu Melhor Cantora da Década pelo Instituto Gaúcho da Tradição Folclórica; em 2021, foi premiada pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho com a medalha Honeyde Bertussi por sua dedicação à música gaúcha; foi homenageada pelo Prêmio Açorianos de Música, em 2019, pelo conjunto de sua obra. Foi indicada ao Prêmio Nacional Sharp de Música, categoria Cantora Regional, pelo álbum Um Mate por Ti (1992).
Para o futuro, Loma planeja lançar um novo LP, quem sabe na esteira das comemorações de seu aniversário de 70 anos. A artista garante que já tem um repertório pronto. O que é certo é que ela seguirá cantando e, especialmente, servindo de inspiração.
— Vou continuar a fazer shows em festivais de música e a incentivar outras mulheres a fazerem o que gostam na vida. A longevidade das pessoas se dá quando elas fazem o que amam. O mundo tem tudo a ganhar com isso — conclui.