Elvis Presley nasceu em 1935 e morreu em 1977, mas agora, décadas depois, está sendo "cancelado". O motivo é o lançamento de Elvis, cinebiografia de Baz Luhrmann — diretor de Moulin Rouge - Amor em Vermelho (2001) e O Grande Gatsby (2013) —, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (14) com o objetivo de "limpar a imagem" do Rei do Rock.
Segundo a revista Rolling Stone, o filme é fruto de uma preocupação da família Presley. Nos últimos anos, o espólio dele vinha tendo uma queda nos fluxos de receita e, nesse caso, uma cinebiografia teria o efeito de apresentar Elvis a um novo público, de forma semelhante ao que ocorreu com Bohemian Rhapsody (2018). Para que a estratégia seja bem-sucedida com a geração Z, porém, há ainda uma longa estrada pela frente.
Apesar de o filme estar recebendo críticas positivas, o biografado não tem sido muito bem acolhido nas redes sociais. No Twitter e no TikTok, comentários acusando Elvis Presley de se apropriar de ritmos negros e abusar sexualmente de adolescentes têm gerado discussões sobre a pertinência do longa em um momento em que essas questões têm ganhado cada vez mais espaço na sociedade. A seguir, GZH reuniu algumas polêmicas envolvendo o ídolo.
Apropriação cultural
O obituário de Elvis Presley que saiu na revista Rolling Stone dizia que o cantor, nascido em Tupelo, Mississippi, foi o responsável por apresentar a música negra à jovem América branca. E, em parte, esse era o segredo de seu sucesso com o público.
Segundo a revista, Sam Phillips, dono do estúdio Sun Records, que descobriu Elvis em 1954, costumava dizer o seguinte:
— Se eu achar um branco que cante com o sentimento de um negro, vou ganhar US$ 1 milhão.
Por ter crescido em um bairro majoritariamente negro, Elvis tinha como influência artistas como B.B. King, Little Richard, Fats Domino, Mahalia Jackson, Sister Rosetta Tharpe e Big Boy, o que o tornava a aposta perfeita para empresários do entretenimento como Phillips. No início da carreira, Elvis costumava lançar músicas já conhecidas na voz de artistas negros que, por sua vez, acabavam não tendo o mesmo sucesso que ele — vale lembrar que, na época e especialmente no sul dos Estados Unidos, havia uma política de segregação entre as populações negra e branca.
A respeito disso, há uma polêmica envolvendo a canção Hound Dog, de 1956, um dos maiores sucessos do Rei, mas que havia sido lançada quatro anos antes, na voz da cantora negra Big Mama Thornton. Em certa ocasião, segundo a Jet Magazine, ela teria dito:
— Essa música vendeu mais de 2 milhões de discos. Eu ganhei um cheque de US$ 500 e nunca vi outro.
Em entrevista à Rollling Stone, Mike Stoller, que compôs a música junto com Jerry Leiber, reconheceu que nem eles nem Thornton foram bem pagos pela regravação de Elvis, mas argumentou que a falta de reconhecimento era uma realidade para os artistas negros da época de forma geral.
Por outro lado, não há dúvidas de que Elvis se beneficiou financeiramente de músicas produzidas por artistas negros, conforme afirmou o autor do livro Race, Rock and Elvis, Michael T. Bertrand em entrevista ao portal USA Today.
Tentando um reconhecimento tardio, o filme Elvis conta, em sua trilha sonora, com um sample de Hound Dog na versão de Big Mama Thornton na canção Vegas, de Doja Cat.
Rei do Rock?
Elvis ficou conhecido como o Rei do Rock — título que está longe de ser unanimidade. O próprio astro abordou o assunto em uma entrevista à Jet Magazine, em 1957:
— Muitas pessoas parecem pensar que eu comecei este negócio. Mas o rock estava aqui muito antes de eu aparecer. Ninguém pode cantar esse tipo de música como as pessoas de cor. Vamos encarar: eu não posso cantar como Fats Domino. Eu sei.
Segundo seus críticos, os precursores do rock seriam artistas negros como Chuck Berry, Fats Domino e Little Richard. Esse último, aliás, já reivindicou o título de inventor do gênero:
— Se Elvis fosse negro, não seria tão grande quanto era. Se eu fosse branco, você sabe o quão grande eu seria? — declarou em entrevista à Rolling Stone, em 1990.
Relação com Priscilla
Se a questão da apropriação cultural gera discussões acaloradas entre quem defende e quem execra Elvis Presley, outro assunto é unânime: a problemática relação entre ele e a esposa Priscilla.
Para começar, os dois se conheceram quando ele tinha 24 anos e ela, 14, em 1959. Nos oito anos entre o namoro e o casamento, Elvis teria "moldado" Priscilla para ser a esposa perfeita: conforme descreveu em seu livro de memórias de 1985, Elvis & Eu, ela pôs porcelana nos dentes, melhorou a postura, pintou os cabelos de preto e passou a usar um penteado para combinar com a imagem do Rei, tudo seguindo ordens do parceiro.
"Nas noites em que ele estava tranquilo, descrevia sua mulher ideal e dizia como eu me encaixava perfeitamente nessa imagem. Ele gostava de morenas de fala mansa com olhos azuis. E queria me moldar às suas opiniões e preferências. A fidelidade era muito importante para ele... especialmente por parte da mulher."
Por outro lado, Elvis não era fiel à esposa. Depois que nasceu Lisa Marie, a única filha do casal, ela conta que o marido não quis mais fazer sexo com ela. "Ele havia mencionado antes de nos casarmos que nunca conseguira fazer amor com uma mulher que tivesse um filho", escreveu ela.
Além disso, Priscilla relatou que sabia que era traída. Por conta disso, os dois se divorciaram em 1972.
Envolvimento com menores de idade
Adorado pelas fãs, Elvis costumava se relacionar com menores de idade enquanto fazia turnês, conforme descreve Joel Williamson no livro Elvis Presley: A Southern Life. Em determinada ocasião, Elvis tinha um grupo de três garotas de 14 anos que "lutavam" com travesseiros, faziam cócegas e beijavam Elvis, que tinha 22 anos na época.
— Ele não prestou atenção em mim (antes), mas quando eu fiz 14 anos, ele me notou. Quatorze era uma idade mágica para Elvis. Realmente era — relatou uma das meninas, Frances Forbes, ao Daily Mail, anos depois.
Ao longo da vida, Elvis teria se relacionado com outras mulheres bem mais jovens do que ele, incluindo numa ocasião em que ele teria "ficado obcecado" após uma camisinha estourar durante uma relação sexual com uma menina de 15 anos, em 1954.
Antes de morrer, ele morou com Ginger Alden, à época com 21 anos. Em seu livro de memórias, Elvis & Ginger, ela relatou outro "podre" do ex-namorado: segundo ela, Elvis andava armado e costumava disparar pelos cômodos de Graceland quando ficava com raiva.