Versar sobre os revezes do amor ainda é colocar em pauta esse sentimento. Em tempos difíceis, evidenciar os afetos pode ser visto com ainda mais estranheza, mas, conforme o cantor Oswaldo Montenegro, "cantar o amor é desabafo e, de certa forma, obrigação". Nesta sexta-feira (10), o músico carioca e um dos ícones da música brasileira apresenta em Porto Alegre o show Balada Para Um Ex-Amor, às 20h, no Teatro do Bourbon Country.
Fazendo um apanhado de composições de sua longa discografia, iniciada em meados dos anos 1970, o artista aposta em um repertório que, em um primeiro momento, parece focado apenas no fim de uma parceria conjugal. Mas que, segundo ele, pode englobar outras rupturas que nos despertam distintas emoções com o passar dos anos.
— As músicas escolhidas não são necessariamente românticas. Canções como A Lista, Bandolins, Estrada Nova e Intuição falam de sentimentos que não têm nada a ver com a paixão romântica. O "ex-amor" no título abrange tudo: a cidade que se deixa, o sonho que passou, o medo de ir embora… — explica Montenegro, em entrevista por e-mail.
A concepção do espetáculo musical deu-se antes de a pandemia varrer o planeta. Algo que forçou convívios intensos e, como consequência em muitos casos, ocasionou divórcios e separações de variadas sortes.
Esse período imposto pelo coronavírus pode ter influenciado na proposta do espetáculo, conforme o artista:
— O show mudou muito. E ele tem que ser uma foto do que estou vivendo naquele momento, e a vida mudou — a minha e a de quem vai me assistir. É como se todos os anos eu marcasse um encontro com a plateia, e o repertório dissesse: "Eu estou assim atualmente e vocês?". Cada vez que expressar o que o público sente, a missão estará cumprida. Se o que a galera está vivendo estiver retratado em uma canção que fiz há muito tempo, toco essa velha canção com o maior prazer. Acho que turnê todo ano é um reencontro entre amigos.
Ainda que não exclusivamente, o espetáculo tem elementos relacionados ao término dos enlaces conjugais. O próprio material de divulgação afirma que o evento "aborda diversos tipos de separação e de sentimentos dos ex-casais, nessa época de constantes trocas de parceiros e sonhos."
Entre as formas de desligamentos, são enumeradas algumas cujas temáticas estão relacionadas à alguma canção. Por exemplo: afetos sólidos que o tempo fraturou (explorados em Se Puder Sem Medo), términos sem dor (como em Taxímetro), dificuldade em admitir o fim do sentimento (abordada em Bandolins) e a paixão que se transforma em amor fraterno (tal qual em Por Brilho). Este último, algo experimentado pelo próprio Montenegro, que já foi casado com a atriz Paloma Duarte e com a flautista Madalena Sales (sua companheira na música há mais de quatro décadas).
— Tenho a sorte de ser muito amigo das mulheres que amei. Transformamos a paixão em uma amizade fraternal, em uma parceria com o tempo. Muitas das minhas músicas falam disso, por exemplo — reflete o artista, complementando sobre os relacionamentos dos dias de hoje. — Ninguém mais quer ficar junto por convenção social. É um tempo de maior transparência, em termos pessoais, e de mais liberdade. Daí um número mais visível de separações.
Recomeço
Contudo, Montenegro relativiza, apontando que, mesmo com o término, é preciso lembrar os motivos que levaram à união em outro momento, e que o fim também enseja um novo começo na vida de todos.
— Toda ruptura é marcante. Não por ser o fim, mas por ser o início de um novo tempo e isso sempre dá medo. O que mais fere é quando, por alguma mágoa, não conseguimos ver mais nada de bom ali. E é claro que havia algo ótimo! Senão, não teria havido o encontro.
Montenegro avalia que o amor é algo em constante transformação. Logo, seria o amor eterno um mito?
— Claro que não. O amor imutável que talvez seja um mito. Nada acaba e tudo muda.
Balada Para Um Ex-Amor
Quando: nesta sexta-feira (10), às 21h
Onde: no Teatro do Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, 80 )
Ingressos: no site uhuu.com e totens localizados no Bourbon Shopping. Vendas na bilheteria do teatro somente no dia do show, a partir das 19h.
Valores: Camarote: R$ 270 (inteira) e R$ 135 (meia entrada). Plateia Baixa: R$ 220 (inteira) e R$ 110 (meia entrada). Plateia Alta: R$ 200 (inteira) e R$ 100 (meia entrada). Mezanino: R$ 150 (inteira) e R$ 75 (meia entrada). Galeria: R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia entrada)