Em vídeo gravado verticalmente em janeiro de 2019, os jovens Bruno Reis e Matheus Gonçalves garantem: "Ticolé é muito bom". A sentença afirmativa deu título ao registro que foi publicado no YouTube. Sob a batida de palmas da mão, Matheus improvisa um funk e passos de dança enquanto segura um sacolé. Por trás da câmera, Bruno auxilia repetindo algumas frases, como uma segunda voz. Gravado despretensiosamente na rua Millo Raffin, no bairro Mario Quintana, zona norte de Porto Alegre, Ticolé É Muito Bom atingiu cerca de 39 milhões de visualizações e se consagrou como o vídeo mais visto no YouTube no Brasil em 2019, segundo levantamento divulgado pela plataforma na semana passada.
Para se ter ideia, o funk porto-alegrense ficou na frente do megassucesso Caneta Azul Esta Marcado com Minha Letra, com mais de 23 milhões de visualizações, além de produções de nomes como Whindersson Nunes. De acordo com o YouTube Rewind, trata-se do vídeo que liderou em 2019 a lista de vídeos da seção Em Alta da plataforma – que contabiliza o número de visualizações, a rapidez com que foram geradas, as curtidas, a origem das visualizações vindas de outras plataformas e as interações. Esse levantamento da empresa foi fechado no dia 30 de novembro.
Matheus lembra que a ideia para o vídeo surgiu de maneira intuitiva, em meio a uma brincadeira numa tarde de verão.
— Não tinha nada para fazer em casa e chamei o Bruno para ficar na rua, avacalhando. Qualquer carro que passava, nós ficávamos viajando. Daí pensei: "Mano, vamos fazer uns vídeos". Então, comecei a cantar: "Eu tô comendo um ticolé" – narra o jovem de 15 anos.
Não demorou uma semana para o vídeo se tornar um fenômeno nas redes sociais, sendo reproduzido em diferentes plataformas e gerando memes. Em seguida, ganharia diferentes versões e coreografias.
— Um dia acordei e todo mundo estava falando: "Bah, meu, Ticolé está bombando!". Eu tinha 100 pessoas no Face, foi para cinco mil. Instagram também aumentou "a fu". Não consigo descrever isso aí, é muita emoção, tá ligado – comemora Matheus, que logo adotou a alcunha de MC Ticolé.
O Ticolé caiu nas graças de Dennis DJ, produtor que já integrou a equipe Furacão 2000 e é responsável por hits antigos – como Cerol na Mão, do Bonde do Tigrão, e Vai, Lacraia, do MC Serginho & Lacraia – e mais recentes do funk, como Malandramente, feita em parceria com os MCs Nandinho & Nego Bam. Em contato pelo Instagram, já em fevereiro, o DJ convidou Bruno e Matheus para gravarem uma nova versão da música com clipe produzido no Rio. Na ocasião, a dupla já contava com o atual empresário, Rafael Salles. Dennis queria realizar a gravação imediatamente para aproveitar no Carnaval.
— Teria que ser antes, para bombar e virar hit – lembra Matheus. – Nós chegamos lá e nos sentimos em casa. A humildade do cara (Dennis DJ) é 100%.
— Já fomos bastante abordados em aeroportos. No Rio, já tinha gente nos parando pra tirar foto, na praia. Aqui em POA ainda tem bastante gente nos abordando ainda – diz Bruno. A fala do cantor pode ser comprovada entre uma buzina ou gritos de "Ticolé" que ocorreram enquanto a dupla concedia a entrevista.
— Tenho orgulho quando as criancinhas vêm me parar – complementa o agora MC.
Matheus e Bruno passaram a produzir vídeos de humor para o YouTube e seguiram investindo na carreira musical. Além do Rio, já viajaram para São Paulo e Santa Catarina, e passaram a contar com DJ Fagner como produtor de suas batidas. O lançamento mais recente provindo dos dois é o brega funk Todo Dia da Semana, disponibilizado no último domingo (8).
— Estamos nos sentindo lá em cima. Agora virei MC. Meu sonho era ser jogador de futebol. Daí vi que isso não era o meu foco. Antes da Copa do Mundo, mesmo, falei para a minha mãe: "Ó, mãe, eu vou ser MC". Ela respondeu: "Tá, vai e tenta" — recorda Matheus.
Agora, ele ambiciona ir além:
— Tenho o sonho de ser um dos melhores MCs. Cara, não podemos desistir do sonho. Diziam que "Ticolé é 'coisarada', tu não vai ter futuro"... Bombou. Quase 40 milhões de views no YouTube.
Para 2020, a dupla deseja passar mais tempo no Rio e em São Paulo, tentando focar em produzir mais músicas e ter mais repercussão.
— Vamos fazer bastante letras para acertar alguma e fazer a gente explodir mais ainda. Tentar trazer sempre a mesma energia, felicidade e simplicidade daqui da rua, da gente brincando — planeja Bruno.
Por fim, Matheus esclarece aos desavisados o significado de "ticolé":
– Queria inventar uma coisa diferente. Se eu cantasse "estou comendo um sacolé" não ia dar muita visualização (risos).