Na última vez que o Weezer veio ao Brasil, a série 24 Horas estava na quarta temporada.
— Lembro de conversar sobre Jack Bauer com um de nossos intérpretes — diz o guitarrista Brian Bell. — Também lembro que alguém dirigiu quase dois dias para nos trazer um sintetizador Moog em cima da hora do show.
Em 2005, o Weezer fez apenas um show na América Latina, no Curitiba Rock Festival. Foi a primeira e, até esta semana — em que tocaram em São Paulo (na quinta) e se apresentam no Rio de Janeiro (neste sábado, no Rock in Rio) —, o seu único show no Brasil.
Na época, a banda estava estabelecida, depois de despontar nos anos 1990 com um rock espirituoso e postura menos agressiva que a de gente como o Nirvana. Os óculos de aro grosso e as blusas de malha do vocalista Rivers Cuomo, somadas às letras sobre problemas cotidianos com referências à cultura pop, deram ao grupo a pecha de nerds.
Menos de 15 anos depois de tocar para 6 mil pessoas em Curitiba, o Weezer que vai enfrentar 100 mil no Rock in Rio é diferente. O grupo está mais prolífico — foram quatro discos nos últimos três anos — e se aproximando de um público mais jovem.
— Sinto que foi a hora certa para elevarmos nosso jogo em termos do tamanho dos lugares onde tocamos. Já não parece mais tão grande para nós. É algo a que estamos acostumados — comenta o guitarrista.
Recentemente, o Weezer saiu em turnê por estádios com abanda Panic! at the Disco — que já foi emo e hoje faz pop adolescente — e músicas novas como Feels Like Summer soam mais amigáveis às rádios e playlists do que o rock de garagem do famoso disco azul, o primeiro da banda, de 1994 (seis dos 13 discos do Weezer levam o nome da banda, por isso são chamados pela cor da capa).
Bell, contudo, rechaça comparações com novos grupos de rock mais populares, como o próprio Panic! at the Disco e outra atração do Rock in Rio, Imagine Dragons.
— É uma honra ter esse alcance, mas quanto a ter algo a ver com essas bandas, não tenho nada a dizer.
Dos trabalhos recentes do Weezer, o que deve render músicas para os shows no Brasil é o álbum verde-azulado, lançado neste ano, depois de a banda gravar um cover de Africa, da banda Toto, a pedido de um fã na internet.
Evocando o senso de humor comum do grupo, o disco é inteiro de versões de clássicos das FMs, incluindo Sweet Dreams (Are Made Of This), do Eurythmics, e Take On Me, do A-ha.
— Não são apenas canções de que gostamos, mas que a maioria dos nossos fãs também gosta — defende o guitarrista.
Mas, como é esperado, o setlist do Weezer terá os maiores sucessos do grupo. Do álbum azul, a banda deve tocar cinco faixas, entre elas Buddy Holly e Say It Ain't So.
O disco mais importante do Weezer, diz Bell, "continua tão revigorante como em 1994". Mas, e se ele tivesse sido lançado em 2019?
— Penso nisso toda vez que vejo um filme clássico. E.T. seria tão popular em 2019 quanto em 1982? Bem, se Stranger Things é um indicativo, sim.