A multiplicidade da obra de André Abujamra é algo presente no cenário cultural brasileiro já há algum tempo. Inquieto, criativo ao extremo e talentoso em áreas diversas, o paulistano de 53 anos é afeito a trabalhos grandiosos. Mas nunca havia feito algo como Omindá, projeto ao qual se dedicou por 11 anos, viajando por 13 países ao redor do mundo, e que apresenta terça e quarta-feira no Theatro São Pedro, como parte da programação do Porto Verão Alegre.
Misto de álbum musical, coletânea de curta-metragens e espetáculo teatral, Omindá – A União das Almas do Mundo pelas Águas, nome completo do projeto cultural (na falta de termo melhor para descrevê-lo) lançado em março do ano passado, é uma parceria de Abujamra com mais de cem músicos de países tão distintos como Bulgária, Mali e Japão. Nas 15 faixas, o tema central é a água – em yorubá, língua usada em rituais religiosos de origem africana, como o candomblé, frequentado por Abujamra, "Omin" significa água e "Da", alma.
– Quando estava criando o projeto, queria um nome único, conceituando o disco, que tem como tema principal a água. Meu pai de santo me ajudou a batizar o Omindá. Num sentido mais poético, Omindá significa buscar vozes de todos os cantos do mundo, sem fronteiras, quebrar as barreiras mentais que nos separam. A água que está no Rio Guaíba é a mesma que banha a baía de Tóquio. Tudo e todos estamos conectados de alguma maneira – explica o artista, em entrevista por e-mail antes das duas sessões em Porto Alegre.
No palco, o músico toca guitarra e percussão e é acompanhado por Maurício Badé, também percussionista, Eron Guarnieri no piano e Mano Bap no baixo. No disco, porém, há desde a participação da Orquestra Filarmônica da Cidade de Praga, da República Checa, à dupla Perotá Chingó, da Argentina, que recentemente se apresentou na Capital em sessões lotadas. Há ainda participações conterrâneas, como o percussionista Marcos Suzano, o violeiro Ricardo Vignini, a Trupe Chá de Boldo, o companheiro de Mulheres Negras Maurício Pereira e os cantores Ritchie e Paulinho Moska.
Para transpor essa multiplicidade para o palco, Abujamra utiliza-se de suas habilidades cênicas e de filmagens feitas com todos os participantes, em um mosaico cinematográfico que funciona como pano de fundo do espetáculo musical.
– Minha primeira banda, Os Mulheres Negras, eram só 2 pessoas. Depois veio o Karnak, com 14 homens e um cachorro. Na minha carreira solo, comecei a experimentar vídeos, interações e até levitar eu consegui, no Homem Bruxa. Sou músico, compositor, maestro, ator, dirijo em cima do palco e atrás de uma câmera. Cresci na coxia de um teatro, então essa salada é muito natural para mim. Sempre vou pensar numa loucura que vai me deixar feliz quando estiver em cima do palco – avalia.
Se as declarações de Abujamra sobre Omindá transparecem realização, é porque ele considera o trabalho o grande projeto de sua vida. Se isso significa que ele está satisfeito? Longe disso.
– Digo que, se eu morresse amanhã, estaria muito feliz e realizado, pois já lancei o Omindá. Por outro lado, já estou derretendo os miolos literalmente pensando no meu próximo projeto, chamado Emydoinã, que será sobre o fogo. Assim que funciona, né? O presente sempre será o seu melhor momento.
Omindá
- Hoje e amanhã, às 21h.
- Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº).
- Ingressos: R$ 30 (antecipados) e
- R$ 40 (na hora)
- Pontos de venda: Lojas Claro do Bourbon Shopping Wallig (Av. Assis Brasil, 2.611) e Shopping Praia de Belas (Av. Praia de Belas, 1.181), Mezanino Produções do DC Shopping (Rua Frederico Mentz, 1.561), na bilheteria do teatro ou pelo site portoveraoalegre.com.br (com cobrança de taxa).
- O espetáculo: André Abujamra une música, teatro e cinema na performance do disco feito após viagens a vários países ao longo de 11 anos.