Foi um ano bom para Gilberto Gil. Com saúde recuperada, disco novo e estreia à frente de um programa na TV, o mestre baiano guardou para a reta final da temporada um presente para os fãs. Depois de muitos anos sem cair na estrada levando no repertório canções de um álbum com faixas inéditas, Gil traz a Porto Alegre, na próxima sexta-feira, o espetáculo Ok Ok Ok, título do disco que lançou em agosto, seu primeiro com novas composições em oito anos. Entre as 20 faixas do show, estão garantidas 13 ou 14 das 15 gravadas no trabalho.
Depois de passar pela Capital nos últimos anos com diferentes parcerias e projetos comemorativos, com olhos e ouvidos no passado, Gil diz a GaúchaZH que o espírito do seu tempo, agora, aos 76 anos, é o presente, e já prospectando o futuro.
– Quando lançava um disco, não costumava tocar tantas músicas dele no show. Foi sugestão do Bem, por eu ter ficado muitos anos sem um álbum de inéditas – destaca, referindo-se a seu filho Bem Gil, guitarrista e produtor de Ok Ok Ok.
Gil sobe ao palco acompanhado de Bem (guitarra) e outros dois filhos, José Gil (percussão e bateria) e Nara Gil (vocal), mais Domenico Lancellotti (bateria e percussão), Bruno Di Lullo (baixo), Danilo Andrade (teclados), Thiagô Queiroz (saxofone) e Diogo Gomes (trompete). Porto Alegre será a quarta capital a receber a turnê, que estreou em 24 de novembro, em Belo Horizonte.
O setlist é completado por faixas de diferentes fases da longeva carreira do artista, como Marginália II (1968), parceria com Torquato Neto, Pai e Mãe (1975) e Se Eu Quiser Falar com Deus (1980). Tem ainda Nossa Gente (Avisa Lá), de Roque Carvalho, que fez sucesso com o Oludum em 1992, e Pro Dia Nascer Feliz, de Roberto Frajat e Cazuza, gravada pelo Barão Vermelho em 1983 depois de virar hit na voz de Ney Matogrosso. Sobre essa última, Gil destaca que não lembrou dela como tema símbolo da redemocratização do Brasil – a multidão a cantou com o Barão Vermelho no Rock in Rio de janeiro de 1985, quando a eleição indireta de Tancredo Neves pôs fim a 21 anos de ditadura militar. Não tem nada a ver com política:
– Gosto muito dessa música. A cantei pela primeira vez no espetáculo que celebrou meus 20 anos de carreira (em 1985). E nunca mais. Até que fui fazer um show em Vassouras, no Rio de Janeiro, terra da Lucinha Araújo, mãe do Cazuza, e fiquei com vontade de tocar para ela, que é uma grande amiga e companheira.
Com política tem a ver a opinião de Gil sobre o Brasil que se avizinha sob a gestão do presidente eleito Jair Bolsonaro.
– Minha expectativa é de que haja uma acomodação da atitude e da vontade política do presidente, que ele tenha a adequação de seu espírito e de seu discurso a uma coisa mais pluralista e democrática. Há sinais inquietantes em relação a alguns ministros, que têm recuperado um discurso de negação das conquistas democráticas e existenciais dos últimos tempos.
Ex-ministro da Cultura, entre 2003 e 2008, Gil lamenta a proposta de extinção do MinC, a ser acomodado como secretaria, junto a outras pastas, no futuro Ministério da Cidadania.
– Há uma decepção generalizada no meio cultural, que transborda para toda a sociedade, com essa sensação de desqualificação da cultura. A decepção é com esse certo “downgrade” que vai haver perdendo a cultura a condição de ter um ministério. Mais grave seria a inexistência, ou abandono, de um processo de criação e aplicação de políticas públicas para a cultura, da perda da compreensão da cultura como dimensão econômica, elemento importante para a vida de todo mundo, da música, do teatro, do cinema, das artes plásticas, do patrimônio histórico. Falta uma indicação clara de que o (novo) governo terá políticas culturais abrangentes.
Para 2019, tudo indica que Gil tem pelo menos um programa certo: Amigos, Sons e Palavras, atração do Canal Brasil em que recebeu para bate-papos personalidades de diferentes áreas, do amigo Caetano Veloso ao médico Drauzio Varela, deve ganhar uma nova rodada de conversas.
– O resultado geral dos 11 programas foi alentador, para mim e para o canal, houve recepção positiva. Eu, que tinha um pouco de receio de que a coisa funcionasse, fiquei satisfeito. As conversas todas transcorreram de forma natural, de acordo com os campos variados de interesse dos convidados e meus próprios interesses na vida cultural e política. Já me convidaram para a segunda temporada. Vou encarar.
Gilberto Gil – Ok Ok Ok
- Dia 14, sexta-feira, às 21h
- Auditório Araújo Vianna (Avenida Osvaldo Aranha, 685).
- Duração aproximada: 90min.
- Ingressos: R$ 120 (plateia alta lateral), R$ 160 (plateia baixa lateral), R$ 180 (plateia alta central), R$ 200 (plateia baixa central), R$ 240 (plateia gold).
- Vendas: bilheteria do Teatro do Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, 80 – 2º piso), das 10h às 22h), bilheteria do Teatro Feevale (ERS-239, 2.755, em Novo Hamburgo), das 9h às 21h, bilheteria do Araújo Vianna (somente no dia do show, a partir das 16h). Sócios do Clube do Assinante têm descontos de 50% (apenas nos primeiros cem ingressos) e 10% . No site uhuu.com (com cobrança de taxa).