Um bando de músicos aspirantes ao sucesso, viajando por estradas sinuosas, ouvindo Tiny Dancer e sonhando em ser capa da Rolling Stone. Esse é o enredo de Quase Famosos (2000), mas é também a história de Ed Sheeran – que com o lançamento de Divide, em 3 de março, acaba de conquistar sua primeira capa da Rolling Stone. Mas, diferentemente da trupe do filme de Cameron Crowe, que vai do nada para lugar nenhum depois de estrelar a mais célebre revista de música do planeta, Sheeran, 26 anos, é o artista pop mais importante da atualidade. Apenas uma semana depois do lançamento do disco – o terceiro de canções inéditas –, seus números são impressionantes.
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Segundo o Spotify, um dos principais serviços de streaming do mundo, Divide estreou dando a Sheeran o recorde de artista mais ouvido em um único dia, com quase 70 milhões de audições, e de faixa mais ouvida em 24h, com o single Shape of You. Na lista mais cobiçada do serviço, a Global Top 50, ele emplacou cinco músicas entre as 10 primeiras posições. Mas Divide, um disco com letras confessionais e sonoridade diversificada, não é apenas o mais ouvido. É também muito rentável: com mais de 670 mil cópias comercializadas, tornou-se o álbum de artista masculino mais vendido em uma semana na história do Reino Unido. De acordo com a Official Charts Company, que compila listas de maiores sucessos na terra da rainha Elizabeth, apenas 25, de Adele (800 mil) e Be Here Now, do Oasis (696 mil) venderam mais que Sheeran em suas semanas de lançamento. E nove dos 10 singles mais vendidos em sete dias são de Divide.
Tanto êxito pode até assustar Sheeran em alguma medida, mas não o surpreende. Afinal, o ruivo vem trabalhando com afinco para se tornar um astro pop. Parte de Divide relembra suas raízes, como na tocante Castle on the Hill, sobre a adolescência de garoto do interior e os amigos que ficaram pelo caminho (com quem passeava ouvindo Tiny Dancer). Ou em Eraser, que trata dos problemas que teve para chegar onde chegou: inveja familiar, drogas, bebidas e armadilhas da indústria da música.
Depois de perambular por pubs do Reino Unido e participar de projetos de menor expressão, acertou a mão com o single de inspiração folk The A Team, que alavancou as vendas do seu álbum de estreia, + (2011), botando Sheeran no radar da crítica. Não deu outra. Em 2012, o Brit Awards o considerou a melhor estreia do ano e melhor artista masculino solo – o que lhe rendeu a abertura dos shows da turnê americana do Snow Patrol.
Uma vez nos EUA, foi apadrinhado por Taylor Swift e chamado para participar do disco e da turnê de Red, em 2013. No mesmo ano, The A Team foi indicada ao Grammy, e Sheeran já tinha moral para lotar três noites no Madison Square Garden. Mas o pé na porta viria mesmo em 2014, quando arregimentou gente como Rick Rubin e Pharrell Williams para produzir seu segundo disco, X, que garantiu dois Grammy (canção do ano para Thinking Out Loud e melhor performance solo).
O primeiro single de Divide, Shape of You, foi lançado há oito semanas e não saiu do topo das paradas do Reino Unido e EUA. E não estamos falando de um derivado trivial de hip-hop eletrônico, mas de uma faixa que se apoia em um dancehall minimalista e contagiante, desses feitos para rachar o assoalho na balada. Mas o amor é o que move a maior parte das letras de Sheeran. Algumas são divertidas e espirituosas, como a historinha de amor sobre a garota escocesa que se apaixona pelo rapaz inglês em Galway Girl; já outras são infantis, como New Man, em que ele descreve o atual namorado da ex, o estereótipo do boboca anabolizado.
Ao final, fica claro que Sheeran ainda precisa comer muito peixe com batata para se tornar um músico e letrista do nível de um dos seus ídolos, Van Morrison (citado mais de uma vez em Divide pelo apelido, Van the Man). Mas mostra que está no caminho certo, especialmente quando fala de amor sem ser piegas, como em What do I know?: "Eu estarei sentado aqui, com uma canção que escrevi / Dizendo que o amor poderia mudar o mundo num momento / Mas o que eu sei?".
DIVIDE
Autor: Ed Sheeran
Pop, Asylum, 12 faixas, disponível para audição nos serviços de streaming