Dois grandes mestres da música popular brasileira serão reverenciados na noite desta quinta-feira em Porto Alegre, no palco do Auditório Araújo Vianna. O carioca Cartola (1908 – 1980) tem na voz da conterrânea Teresa Cristina uma de suas mais aclamadas intérpretes. Já o baiano Caetano Veloso garante ele próprio um desfile por clássicos de sua trajetória, com faixas há muito ausentes – ou raras – em suas apresentações ao vivo.
O espetáculo Caetano Veloso apresenta Teresa Cristina chega à Capital depois de estrear no Rio, em setembro, passar por Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão. É um encontro gestado há muito anos, conta Caetano a ZH:
– Quando eu estava gravando o disco Zii e Zie (2009), chamei Teresa para participar de um dos shows de preparação. Ela tinha feito uma gravação linda de minha música Gema, e eu queria que cantássemos juntos. Fiquei impressionado com o conhecimento que Teresa tem de meu repertório. Sabe praticamente todas as minhas músicas, de qualquer período. Eu já a conhecia de breves encontros, do CD com sambas de Paulinho da Viola e do prestígio dela na noite da Lapa. Ela tem uma imensa cultura de música popular. De Dona Ivone Lara a Roberto Carlos, de heavy metal a canções dos anos 1930.
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Neste ano, Teresa lançou um CD e DVD em tributo a Cartola, que ganhou lançamento internacional pelo selo americano Nonesuch, o mesmo de Caetano nos EUA. Veio então a ideia de apresentar a cantora ao mundo.
– Eu tinha visto o show no Teatro Net Rio. Teresa e Carlinhos Sete Cordas mostravam uma joia de refinamento. O presidente da Nonesuch ficou encantado e sugeriu que eu fizesse um show com ela em Nova York. Daí vieram os convites para fazer em Chicago e Miami, e também em Seul, Osaka e Tóquio – explica Caetano, citando o renomado violonista que acompanha Teresa no espetáculo.
O show começa com Teresa lembrando Cartola em clássicos como O mundo é um moinho e As rosas não falam. Em seguida, Caetano faz seu show ao banquinho e violão. Depois, a dupla canta faixas do baiano (veja abaixo o provável repertório do show). Depois de turnês com a banda Cê e com Gilberto Gil, Caetano aproveitou o novo espetáculo para reencontrar algumas canções suas gravadas por ele mesmo e por artistas como Maria Bethânia e Gal Costa.
– O critério para a escolha do repertório foi cantar coisas que me parecessem importantes que não tivessem feito parte do show com Gil, tão recente – diz Caetano. – Dentre as que eu não cantava há muito tempo, Tá combinado me impressionou muito pela clareza e fluência das palavras e pelo suingue da melodia. Mas os dois sambas tropicalistas, ambos de 1968, A voz do morro e Enquanto seu lobo não vem, são os mais fortes para mim. Músicas como Esse cara e Meu bem, meu mal me pareceram muito boas também. Gostei de ficar surpreso com minhas próprias canções.
Teresa complementa destacando à reportagem as faixas de Caetano que canta com ele:
– Caetano escolheu Tigresa, Desde que o samba é samba e Odara. Eu estava louca para cantar Miragem de Carnaval. Esse álbum do filme Tieta (1996) é todo maravilhoso, eu ouço sempre. Como 2 e 2 escolhi porque faz parte da minha vida desde os quatro anos, na voz do Roberto. É uma canção tão forte quanto bela, me emociona demais. Escolhidas as canções, o repertório foi crescendo show a show, a cumplicidade nos ajudou. E Caetano está sempre ligado a tudo. Tudo mesmo, da letra e melodia certa ao gesto, ou mesmo à ausência dele. Os conselhos que ele me dá desde que começamos a cantar juntos vão me acompanhar para o resto da vida.
Teresa Cristina equilibra sua carreira entre projetos especiais dedicados a ídolos da MPB e álbuns em que mostra seu talento como compositora – seu último disco é Delicada (2007) e já planeja um próximo trabalho autoral:
– Cantar as palavras que outro compositor escolheu tem me aproximado da plateia, sinto que começamos o espetáculo com uma certa cumplicidade, sabe? Independentemente dos meus trabalhos autorais, quero cantar esses tesouros. Quero que a vida dessas canções se misturem com a minha vida, é por isso também que eu canto. Dar sentido aos versos de uma canção que eu não fiz é delicioso, tem um desafio ali. Quando canto minhas canções já me sinto mais exposta, não procuro desvendar nenhum verso para não entregar tudo de cara. Se eu pudesse, faria uma nova canção todo dia. Ah, seu pudesse (risos). Enquanto não termino uma canção fico muito agoniada. Fico com ela na cabeça e não gosto muito de sair, o sentimento não é muito agradável. Nos últimos dois anos, compus bastante, encontrei novos parceiros e fiquei satisfeita com a nova ninhada. Compus com César Mendes, Mingo Silva e Bruno Barreto, Adriana Calcanhotto, Marisa Monte, Mosquito e Moacyr Luz.
A elogiada versatilidade de Teresa mantém ainda acesa a chama por uma paixão de adolescência, o heavy metal.
– Aprendi a amar o metal e não desaprendi, ainda faz sentido para mim – ela conta. – Não ouço como na adolescência, mas sou fiel a duas bandas que me encantam, Van Halen e Iron Maiden. As músicas são belíssimas, letras que dizem muito a mim. Só canto no chuveiro e na faxina e sou bem feliz assim. Não nasci com o pulmão necessário para aquele peso todo, é uma pena. Já imaginou a Alcione cantando Remember tomorrow(do Iron Maiden)? Seria tudo de bom.
Provável set list do show
Teresa Cristina canta Cartola
O mundo é um moinho
Corra e olhe o céu
Alvorada
Cordas de aço
Preciso me encontrar
Tive sim
Sim
Acontece
Sala de recepção
As rosas não falam
Caetano Veloso
Um índio
Os passistas
Luz do sol
Meu bem, meu mal
Esse cara
O leãozinho
Menino do Rio
Minha voz, minha vida
Cucurrucucú Paloma
Reconvexo
Love for sale
Bahia, minha preta
Branquinha
Tá combinado
Enquanto seu lobo não vem
Força estranha
A luz de Tieta
Caetano e Teresa
Tigresa
Miragem de Carnaval
Como 2 e 2
Desde que o samba é samba
Odara
Caetano Veloso apresenta Teresa Cristina
Quinta-feira, às 21h. Duração: 90 minutos.
Auditório Araújo Vianna (Avenida Osvaldo Aranha, 685).
Ingressos: restam entradas para plateia alta central (R$ 300)
e plateia baixa central (R$ 350). Descontos de 10% para sócios do Clube do Assinante e 40% mediante entrega de 1kg de alimento não perecível (limitado a 1,9 mil ingressos). À venda sem taxa na bilheteria do Teatro do Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, 80, das 10h às 22h) e na bilheteria do Araújo Vianna somente na quinta, a partir das das 14h). Venda com taxa no site ingressorapido.com.br e pelo telefone 4003-1212.