Mais do que uma banda, Francisco, el Hombre pode ser descrito como um grupo de pessoas que sentem vontade quase incontrolável de comunicar seus pensamentos. Com nome inspirado no espírito aventureiro e andarilho da lenda colombiana homônima, o grupo foi formado em 2013 pelos irmãos mexicanos Sebastián e Mateo Piracés-Ugarte, que moravam em Campinas e convocaram os brasileiros Juliana Strassacapa, Rafael Gomes e Andrei Kozyreff para fazer parte de suas viagens. Pois a trajetória de Francisco, el Hombre chega hoje ao bar Opinião, onde eles lançam seu primeiro disco, SOLTASBRUXA.
Reconhecida na cena alternativa, a banda causou surpresa ao mudar de dialeto em seu primeiro disco oficial – se nas gravações anteriores, como no EP La pachanga!, lançado no ano passado, a banda cantava primordialmente em espanhol, SOLTASBRUXA apresenta composições quase completamente em português. De acordo com o baterista e vocalista Sebastián Piracés-Ugarte, a mudança faz parte de um "momento menos mambembe" grupo.
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– Passamos um bom tempo viajando pela América Latina. Tocávamos em praça, semáforo, boteco, era bem roots, então o espanhol foi a melhor forma que achamos de passar nossa mensagem – diz o músico, em português quase sem sotaque. – Depois de um tempo, percebemos que nosso maior público estava aqui, e que queríamos nos comunicar com o Brasil.
Parte dessa transição foi feita à força. Em 2015, durante uma série de shows na Argentina, o grupo foi assaltado e teve praticamente tudo levado: carro, instrumentos, discos, amplificadores, roupas, dinheiro e documentos.
– Acho que é metafórico o que rolou depois do assalto: a reação imediata da galera que nos recebeu em Mendoza era colocar instrumentos nas nossas mãos, para a gente tocar nas praças. Três dias depois, fomos convidados para tocar em um festival gigante. Ganhamos tanto carinho que não dava para falar não – diz Piracés-Ugarte.
É dessa transição que vem o nome do disco. A mudança de perspectiva se deu em um momento de relação conturbada entre a banda e o antigo produtor. Tudo acabou alimentando um desejo de, realmente, soltar as bruxas e fazer o que a banda acreditava – o que faz o disco ter um ar contemporâneo, com pautas como machismo e representatividade inseridas nas letras. Em Bolso nada, gravada com a participação de Liniker e os Caramelows, a banda ironiza o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ): "Esse cara tá com nada, sabe pouco do que diz/ muito blablablá que queima quem podia ser feliz", cantam. Os gaúchos da Apanhador Só também participam do disco, na música Tá com dólar, tá com Deus.
– Sempre fomos fãs da Apanhador Só. Conhecemos a banda no show que eles fizeram na nossa casa, durante a turnê em que tocavam em salas de estar – empolga-se Piracés-Ugarte. – E Porto Alegre sempre é incrível conosco, sempre nos recebe de braços abertos. Conseguir lançar nosso primeiro disco na cidade é um sonho se realizando.
Francisco, el Hombre
Sexta-feira, às 20h15min.
Classificação: 14 anos.
Opinião (Rua José do Patrocínio, 834).
Ingressos: R$ 60.