É hora de tirar o luto. Três anos e meio depois de anunciar o fim de suas atividades e deixar uma multidão de viúvas, o trio Pata de Elefante está de volta. Durante duas noites no Ocidente, nesta quinta-feira e no próximo dia 27, Gabriel Guedes, Daniel Mossmann e Gustavo "Prego" Telles voltam a mostrar por que se tornaram uma referência da música instrumental brasileira.
Para quem está chegando agora neste grande palco chamado vida, um pouco de contextualização talvez se faça necessária. A Pata de Elefante, com Prego na bateria e Gabriel e Daniel revezando baixo e guitarra, foi uma das primeiras bandas a romper o nicho da música instrumental e levá-lo para o mainstream. Até aquele início dos anos 2000, para o grande público, música sem vocal era música de elevador.
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Não que tenha sido muito difícil para eles. Com o primeiro disco, homônimo, lançado em 2004, levaram o Prêmio Açorianos de Música na categoria artista revelação. Logo estavam excursionando por todo o Brasil, tocando em festivais como o Goiânia Noise e o Abril Pro Rock. Os dois trabalhos seguintes renderam mais prêmios, ambos na categoria música instrumental: Um olho no fósforo, outro na fagulha (2007) venceu o Video Music Brasil da MTV, enquanto Na cidade (2010) faturou mais um Açorianos.
A ascensão da Pata jogou luz sobre toda uma cena de rock instrumental brasileiro, gente do calibre da Hurtmold (São Paulo), da Macaco Bong (Cuiabá) e da Retrofoguetes (Salvador). Em Porto Alegre, ajudou a incentivar uma turma que hoje caminha com as próprias pernas, como Quarto Sensorial, Urso e Marmota Jazz.
Mas, em 2013, depois de 11 anos de atividades ininterruptas e prestes a lançar o quarto disco, a inevitável fadiga dos materiais determinou o fim da Pata. O álbum Julio Rizzo e Pata de Elefante chegaria ao mercado quase um ano depois, quando os integrantes já haviam tomado outros rumos: Prego engatara carreira solo (que vinha se desenhando antes do término do grupo), Gabriel fixou base em São Paulo para tocar projetos individuais e Daniel estava firme nos Acústicos & Valvulados.
Confira trecho do ensaio do trio:
Até que em março deste ano, em um show do parceiro Luciano Leães, meio que por obra do acaso, o trio acabou novamente reunido. Na ocasião, Prego, Daniel e Gabriel executaram Dr. João vai à praia (do disco Julio Rizzo...) e Um olho no fósforo, outro na fagulha (do álbum homônimo). Foi o suficiente para que o produtor e amigo Márcio Ventura, o Rei Magro, propusesse esses dois shows.
– A ideia bateu legal, porque a gente já tinha se acertado pessoalmente antes daquele show, e a conexão no palco havia sido imediata, do tipo um olhar para o outro e sair tocando – explica Prego.
Gabriel é sintético sobre os ensaios, que estão rolando durante esta semana:
– É como andar de bicicleta.
Para os dois espetáculos, a Pata escolheu um set list que revisita seus três primeiros discos e privilegia o formato original de power trio. Portanto, não será desta vez que as canções de Julio Rizzo e Pata de Elefante, gravado como sexteto, serão ouvidas ao vivo pelos fãs.
– Não que a gente descarte essa possibilidade no futuro. Eu sou bem a fim, inclusive – comenta Prego.
De certo, por enquanto, é que a Pata não irá gravar nada novo. Além dos shows no Ocidente, o dia 2 de dezembro está reservado para uma apresentação do grupo no Morrostock, em Santa Maria. Mas, até lá, pela empolgação do trio com a reunião, tudo pode acontecer. Como diz o título da última música do último disco: parece que foi ontem.
PATA DE ELEFANTE
Nesta quinta e no dia 27 de outubro, às 23h (com abertura da casa às 21h).
Ocidente (João Telles esquina com Osvaldo Aranha), em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 50, à venda na Lancheria do Parque (Osvaldo Aranha, 1.086), na loja Back in Black (Shopping Total), na Toca do Disco (Garibaldi,1.043), na loja Sirius (República, 304) e no bar Ocidente (a partir das 21h).