Fabrício Carpinejar não para. Depois de Colo, Por Favor! e Carpinejar, o autor lança o terceiro livro desde o início da pandemia. E a novidade vem com potencial para ser um duradouro best-seller. Em Coragem de Viver (Planeta, 160 páginas, R$ 46,90 o livro e R$ 19,99 o e-book), Carpinejar retoma uma tarefa em que demonstra originalidade e competência: falar de família de um ponto de vista pessoal, mas com capacidade de identificação universal. O novo livro é inteiramente dedicado a sua mãe, a poeta Maria Carpi. O projeto inicial era que os dois escrevessem um livro juntos, a quatro mãos.
— Chegou a pandemia e teve um impacto no nosso projeto. A gente não se encontrou mais. Minha mãe é à moda antiga, ela gosta de conversar pessoalmente. Por outro lado, o confinamento também me trouxe uma urgência de escrever sobre ela. Então, eu dei um golpe de Estado. Comecei a escrever sozinho, em segredo — explica Carpinejar.
Apesar de Maria Carpi ser a indubitável protagonista, o livro está longe de ser uma biografia. O texto é construído a partir de capítulos curtos, de até três páginas – algumas vezes não passam de um parágrafo. Para Carpinejar, trata-se de "fábulas reais".
— As fábulas são caracterizadas pela imaginação. Mas essas são fábulas reais. É o maravilhoso da realidade. São parábolas onde sempre se aprende alguma coisa. Cresci com minha mãe lendo as Fábulas de Leonardo da Vinci para mim. Isso fico impresso na minha alma — conta Carpinejar.
Natural de Guaporé, Maria Carpi mudou-se para a Capital na adolescência. Aos 40 anos, separou-se do marido e passou a se responsabilizar sozinha pelos quatro filhos. Com formação em Direito, passou a dar aulas e a estudar para concursos públicos quando Carpinejar tinha oito anos. "Acha que ela permaneceu chorando? Até chorou, mas chorou se movimentando", escreve o filho, ao narrar a história.
— Qualquer leitor irá se identificar. A mãe aparece em diferentes idades, em diferentes fases da vida. E ela também tem os seus instantes líricos. Há alguns dias, liguei para ela, mas não era atendido. Foram 12 chamadas. Fiquei preocupado. Uma senhora octogenária isolada na pandemia não atender o telefone é preocupante. Momentos depois, ela me ligou. Disse que tinha deixado a alma carregando — diz Carpinejar.
Surpresa
O tom de fábula é complementado pela caprichosa edição da Planeta e pelas ilustrações de Ana Carolina de Paula (anacardia). Além de protagonista, Maria Carpi foi a primeira leitora:
– Foi uma surpresa maravilhosa. Fabrício me comoveu. Ele é muito arteiro. Esse livro foi mais uma proeza dele. Há trechos comoventes.
Uma das passagens preferidas da homenageada está na contracapa. É a história de uma conversa entre mãe e filho diante de uma flor que havia brotado em um muro. "Ela nasceu do impossível, viu? Achou um meio de nascer da pedra", afirmou a mãe. E complementou: "O impossível é o nosso medo. Sem ele, somos possíveis. Não diga 'nunca posso fazer', festeje que é um novo jeito de fazer. Ainda que o jardim seja a parede".
— Tudo o que está no livro é verdade. Temos vários diálogos assim em família. Sempre usamos a linguagem poética dentro de casa. E cada um dos meus filhos se expressa de modo diferente. Tenho paixão por não ser parâmetro para ninguém. Cada um encontrou seu ritmo e respiração — celebra Maria Carpi.