Ali quase em frente ao Memorial do Rio Grande do Sul está instalada, ao lado do QG dos Pitocos, a banca da distribuidora de livros A Página, mas talvez este texto nem precisasse fornecer essa informação. Ela deve se tornar de conhecimento público ao longo dos próximos dias da Feira, já que qualquer um que passe por ela não vai esquecer da cena algo insólita que se desenrola diante dos olhos. Com aquele ar ao mesmo tempo concentrado e sereno que é característico dos praticantes de um instrumento musical, o atendente Guilherme Ferraz, 29 anos, passa o tempo entre um atendimento e outro executando algumas peças ao violino.
Em pé dentro da banca, ele toca sem perder de vista a passagem do público, já que sua própria exibição atrai um ou outro que param e admiram - e que podem ser fregueses em potencial.
– Comecei a fazer isso porque trabalho muito em feiras em escolas – comenta Guilherme, que costuma atuar como prestador de serviços em bancas de editoras e distribuidoras em eventos literários.
Fascinado pelo instrumento desde criança, Ferraz nunca teve dinheiro para as aulas de formação necessárias para ser um violinista, mas decidiu se arriscar no estudo do instrumento no ano passado, após ver o que considerou uma grande apresentação de uma violinista em uma feira de livros. Com um dinheiro que havia juntado, pagou R$ 600 por um violino de segunda mão no Mercado Livre e começou a assistir a aulas em vídeo no YouTube. Com exercício e dedicação, hoje já é capaz de tocar com alguma desenvoltura.
–Sempre digo que não tem coisa que não se aprenda com dedicação - diz o violinista amador que tem feito seu recitais ao ar livre em plena praça.
*Carlos André Moreira, o Rato da Feira, é editor do Segundo Caderno e da Coluna Mundo Livro. Tem a missão de garimpar curiosidades na Praça da Alfândega durante a 64ª edição da festa do livro.