Em suas variadas formas, o humor faz rir, provoca reflexões e pode ser até uma forma de levar a vida mais leve e encarar situações complexas de uma forma diferente. Na noite desta quarta-feira (8), escrever e falar com humor foram os temas de um encontro de grandes personalidades como Luis Fernando Verissimo, Antonio Prata, Gregório Duvivier e o português Ricardo Araújo Pereira. Em comum, todos têm, além da verve e de já terem produzido humor para várias mídias, o fato de serem colunistas da grande imprensa – Verissimo, em Zero Hora e no Globo. Os demais, na Folha de S.Paulo. Com tal experiência, mediados pelo jornalista Roger Lerina, o quarteto não teve dificuldade para arrancar risadas do público que lotou o Teatro Carlos Urbim, na 63ª Feira do Livro de Porto Alegre. Verissimo abriu a conversa falando sobre o humor como ferramenta de discurso
– Com o humor a gente pode fazer comentários sobre qualquer assunto, mas sempre com cuidado – disse Verissimo.
Gregório Duvivier fez um adendo. Para ele, o humor "nasce do incômodo", mas com ressalvas:
— Quando a revolta é muito grande, aí é difícil. O tempo todo tenho dificuldade, às vezes há uma briga entre política e humor. Porque você pode falar coisas sérias através do humor, mas seriedade demais pode matar o humor.
os Limites do humor também em discussão
Para os debatedores presentes, assim como tem a capacidade de, por meio do riso, fazer alguém pensar sobre as coisas sob uma nova perspectiva, o humor deixa de ser humor quando gera incômodo em quem está ouvindo. Há um limite, que vale para os dois lados.
– A gente vive num país que não tem o hábito de problematizar. Antigamente, as minorias não tinham voz. E agora, o que muda é que elas têm voz e isso foi uma revolução. Tem gente que acha que a liberdade de expressão vale só para o piadista, mas ela precisa valer também para quem se ofende quando o humor vira preconceito – comenta Duvivier.
De acordo com o humorista do Porta dos Fundos, que veio a Porto Alegre lançar seu livro de crônicas Caviar é uma Ova, é preciso haver um equilíbrio entre a liberdade do humorista e a repercussão da piada em um determinado grupo:
– Não dá para dizer que o ofendido tem sempre razão, mas, da mesma forma, também não dá para dizer que o humorista tem sempre razão.
Antonio Prata, que veio lançar o misto de crônica e memória Trinta e Poucos, vê o ofício de fazer rir sob uma luz mais pragmática e crítica:
– Nenhum humorista, em sã consciência, acredita que vai mudar a realidade com as suas piadas.
Como contraponto, Ricardo Araújo Pereira, que autografa ontem os livros Se Não Entenderes eu Conto de Novo, Pá e A Doença, a Morte e o Sofrimento Entram num Bar, afirmou que o humor pode tornar o mundo menos duro:
– Eu acho que é possível que o humor contribua para tornar o mundo um pouco mais fácil pra nós. O mundo não muda, o mundo continua igual, mas a nossa perspectiva muda diariamente.
Na era das redes sociais, onde todos têm opinião, Duvivier considera a internet um espelho deformado da realidade:
– A maioria das polêmicas da internet só afeta a internet, é uma bolha. A gente ainda tá aprendendo a lidar. O mundo é mais legal do que a internet.
Matando a curiosidade do público, Ricardo Pereira disse que em Portugal não há piadas de brasileiros:
— Uma vez me perguntaram se em Portugal não existia piadas de brasileiro. Aí eu disse “e precisa”? — divertiu-se o português, fazendo a plateia rir