O amor é tema recorrente na literatura de Fabrício Carpinejar. Nos 50 livros que tem publicados, em alguma medida, o escritor e jornalista de 50 anos sempre deu um jeito de tocar no sentimento. É inerente a ele. Agora, antes de chegar ao livro de número 51, o filho de Maria Carpi e Carlos Nejar troca as palavras escritas pelas faladas para colocar o amor novamente em questão: nesta sexta (21), às 20h e às 22h, e domingo (23), às 18h, apresenta em Porto Alegre, no Teatro CIEE (Rua Dom Pedro II, 861), o espetáculo Tudo o que Seu Marido Precisa Saber — Confissões de um Homem em Desconstrução, um monólogo bem-humorado sobre as relações amorosas.
Sozinho no palco durante 70 minutos, Carpinejar apresenta ao público 12 histórias que escracham comportamentos pouco saudáveis nos relacionamentos, mas que por vezes são naturalizados em nome de um conceito de "amor romântico" — como exemplos, cita a renúncia às próprias vontades e o afastamento dos amigos em função do parceiro. Segundo ele, o objetivo é fazer com que, através do humor, o público perceba e reflita sobre o quão perigosas tais práticas podem ser.
— O poeta sempre está vinculado ao romantismo, eu mesmo já fui intitulado algumas vezes de "o último romântico", mas esse amor romântico tem efeitos colaterais — alerta Carpinejar. — Se você entra em um jogo de renúncias e privações, acredita que demonstrar amor é deixar de fazer algo para si. Esse amor não é um amor saudável. Para amar, é preciso manter a individualidade, ter momentos com os amigos e com a família, ter prazeres e fontes de alegria independentemente do relacionamento. A gente acredita no amor à primeira vista, mas não existe amor à primeira vista. O amor é parcelado, sempre uma construção — opina.
Além de operar como uma espécie de conselheiro para o público, Carpinejar é ator, roteirista, diretor e personagem das histórias do espetáculo. Ele defende que todos os causos são biográficos, embora somente alguns tenham de fato lhe ocorrido. Uma parte das histórias retrata situações às quais o autor considera que também está sujeito, por isso coloca todas sob o guarda-chuva das experiências vividas. E garante: todas o emocionam profundamente.
É algo que será palpável para o público presente. Isso porque, através de um telão alocado ao fundo do palco, os espectadores poderão acompanhar os batimentos cardíacos de Carpinejar em tempo real ao longo de todo o espetáculo, que já passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória e Belo Horizonte. Para ele, esta tem sido uma forma de se mostrar ainda mais entregue à plateia.
— Eu queria que o público testemunhasse o quanto eu realmente me emociono. E não é pouca emoção, não — garante. — Na sessão de estreia, em São Paulo, a vontade da Beatriz (esposa) era subir no palco para me socorrer, porque o meu batimento foi a 180. Em Porto Alegre, a emoção deve ser ainda maior. Só temo pelo meu coração. Espero que tenhamos cardiologistas na plateia (risos).
O batimento cardíaco é medido através de um dispositivo instalado no figurino, um traje medieval criado pelo estilista Ronaldo Fraga e usado por Carpinejar também no casamento com Beatriz. A missão de entrar novamente na vestimenta, criada para um Carpinejar oito anos mais novo, exigiu que ele emagrecesse nove quilos.
— Esse espetáculo me tornou literalmente mais leve (risos). Espero que as pessoas também saiam mais leves do teatro — brinca.
A referência ao relacionamento de Carpinejar ultrapassa o escopo do figurino. Entre as histórias contadas durante o espetáculo está a de como o escritor conheceu a esposa, que também inspira outros relatos da montagem, a título de exemplo positivo. Ao conhecer Beatriz, Carpinejar diz ter descoberto o tipo de amor que deseja a todos os espectadores de Tudo o que Seu Marido Precisa Saber.
— Se a minha ansiedade não morreu, ela ao menos entrou em coma, porque eu conheci a paz. Cultivamos uma ideia de que o amor é vertigem, redemoinho, borboleta no estômago, mas o amor é tranquilidade, é poder ser quem você é sem tensões ou receios. Com a Beatriz, é como se eu estivesse mergulhando para além da arrebentação. Antes eu vivia me defendendo das ondas, mas de repente eu encontrei a mansidão do fundo do oceano. O amor é isso — diz ele.
Apesar da densidade do tema abordado no espetáculo, o autor garante que o público irá gargalhar do início ao fim. Mas adianta que, para grande parte das pessoas, o riso pode ser "de nervoso". Como muitos outros trabalhos, Tudo o que Seu Marido Precisa Saber é mais um convite à autoanálise remetido por Carpinejar.
Tudo o que Seu Marido Precisa Saber - Confissões de um Homem em Desconstrução
- Nesta sexta (21), às 20h e às 22h, e no domingo (23), às 18h, no Teatro CIEE (Rua Dom Pedro II, 861), em Porto Alegre
- Ingressos inteiros a partir de R$ 90, disponíveis na plataforma Sympla