A morte da auxiliar de serviços Claudia Silva Ferreira, aos 38 anos, chocou o Brasil em 2014. Ela havia saído de casa para comprar pão e foi baleada durante uma operação da Polícia Militar no Morro da Congonha, no Rio, deixando quatro filhos. Os policiais colocaram seu corpo no porta-malas de uma viatura, mas o porta-malas abriu durante o trajeto, e o corpo foi arrastado por cerca de 350 metros, tudo exibido em um vídeo amador divulgado pela imprensa na época.
Foi a necessidade de refletir sobre o episódio que motivou a criação da peça A Mulher Arrastada, que estreia em sessões nesta sexta (25/5) e sábado (26/5), às 21h, na Galeria La Photo (Travessa da Paz, 44), no último fim de semana do 13º Festival Palco Giratório Sesc/POA (veja detalhes sobre ingressos abaixo). Os ingressos estão esgotados, mas o espetáculo seguirá em cartaz depois do festival, de 2 a 17 de junho, aos sábados e domingos, às 20h, no mesmo local, em temporada financiada com um crowdfunding ainda aberto para colaborações (catarse.me/mulher_arrastada).
Escrita pelo dramaturgo Diones Camargo e dirigida por Adriane Mottola, a montagem gaúcha mostra duas situações paralelas. Uma delas, interpretada pela atriz Celina Alcântara, alude ao assassinato de Cacau, como Cláudia era conhecida. A outra mostra um policial, vivido por Pedro Nambuco, tentando se livrar da acusação de um crime “que se aproxima muito ao cometido contra Cacau”, na descrição de Camargo, que escreveu o texto em 2016:
– A peça é um híbrido do teatro político de Brecht com performance, fazendo ecoar também elementos do teatro dramático. Na época, eu estava há três anos trabalhando no roteiro do longa-metragem A Colmeia, de Gilson Vargas, que será lançado nos próximos meses, e estava começando a ficar entediado com aquele tipo de escritura encadeada e realista que o cinema tanto aprecia e prioriza. Por isso, quando escrevia para teatro, buscava estruturas narrativas diversas daquelas que até então havia experimentado.
Celina relata que o caso real motivador do espetáculo a impressionou profundamente:
– Como mulher negra, as mortes de outras mulheres negras me afetam especialmente. Ficava pensando, na época, que Claudia bem podia ser alguém da minha família, alguma das amigas ou, sob outras circunstâncias, eu mesma.
Assim, a atriz construiu sua relação com Claudia a partir do desejo de “fazer ecoar a voz silenciada”:
– Não interpreto Claudia. Tento fazer soar no meu corpo-voz esta que é a voz de muitas mulheres vítimas diárias de toda sorte de violência, inclusive a perda da vida, sempre de maneira banalizada.
Para Camargo, o assassinato “toca em feridas sociais que há muito estão escancaradas no Brasil”:
– Há ali o racismo, mas também o feminicídio, a violência policial contra pessoas pobres e da periferia, a legitimação da sociedade que faz questão de virar os olhos para o extermínio de pessoas negras.
A Mulher Arrastada
Sessões no 13º Festival Palco Giratório Sesc/POA:
Nesta sexta (25/5) e sábado (26/5), às 21h, na Galeria La Photo (Travessa da Paz, 44), em Porto Alegre. Ingressos esgotados.
Temporada:
De 2 a 17 de junho, aos sábados e domingos, às 20h, na Galeria La Photo (Travessa da Paz, 44), em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 50 (inteira), com desconto de 50% para estudantes, idosos e classe artística.
À venda no local e pelo link catarse.me/mulher_arrastada.