Embora o Brasil tenha testemunhado, nos últimos tempos, uma pujante produção cultural relacionada aos indígenas, incluindo livros, filmes e espetáculos, questões prementes como a demarcação de terras não parecem sensibilizar a maioria. Para os brasileiros, é como se os indígenas – os habitantes mais antigos deste território – fossem os outros.
Alexandre Nero apresenta O Grande Sucesso no Theatro São Pedro
Leia todas as notícias de Espetáculos
Sublinhando esta crítica, o dramaturgo Fernando Marques lembra que ele mesmo tomou conhecimento da "dimensão real" da questão ao iniciar a pesquisa para o espetáculo Se Eu Fosse Iracema, que tem sessões sábado (13/5) e domingo (14/5), às 19h, na Sala Álvaro Moreyra (Erico Verissimo, 307), em Porto Alegre, dentro do 12º Festival Palco Giratório Sesc/POA:
– Para a maioria dos brasileiros, o índio é visto pelo lado folclórico, um personagem que teria morrido em 1500, ou como um sujeito que representa hoje um entrave ao progresso, sem que se questione que progresso é esse.
O processo de criação do espetáculo teve como faísca inspiradora a carta dos Guarani-Kaiowá de 2012 na qual decretavam que, caso fossem despejados do território onde vivem, no Mato Grosso do Sul, resistiriam até a morte. Depois, ele e o diretor Fernando Nicolau mergulharam em uma pesquisa e convidaram a atriz Adassa Martins para o projeto.
Em Se Eu Fosse Iracema, Adassa está sozinha em cena, evocando mitos e ritos ancestrais e denunciando a perda de direitos dos indígenas na atualidade. Marques explica que o trabalho partiu de duas preocupações:
– Não queríamos falar no lugar dos indígenas. Assumimos um olhar abrangente. Outra questão é que não queríamos falar de um indígena ou uma etnia em particular, mas dos povos originários do país de forma geral.
Desde o título, o espetáculo dialoga com a história cultural ao referir o romance Iracema (1865), de José de Alencar (1829 – 1877). Marques acredita que não apenas os indígenas foram idealizados pelo romantismo, como o país de modo geral, e acrescenta:
– O que me parece preocupante é que tanto tempo tenha passado, e muitos de nós continuemos lidando com a figura indígena da mesma forma.
SE EU FOSSE IRACEMA
Neste sábado (13/5) e domingo (14/5), às 19h. Duração: 60 minutos. Recomendação: 14 anos.
Sala Álvaro Moreyra (Erico Verissimo, 307), fone (51) 3289-8066.
Ingressos: R$ 20, com possibilidades de descontos.