Reunindo 421 longas-metragens da filmografia do Rio Grande do Sul, o Dicionário de Filmes Gaúchos – Longa-metragem 1911-2022 será lançado nesta terça-feira (5) às 18h, na Livraria Taverna, em Porto Alegre. O livro, que é organizado e editado pelo pesquisador Glênio Póvoas, também terá sessão de autógrafo na quarta (6), às 17h, na 70ª Feira do Livro de Porto Alegre.
Publicação do Instituto Estadual de Cinema (Iecine RS), instituição da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), é descrito como a última etapa do projeto Primavera Gaúcha, desenvolvido entre 2023 e 2024 por meio de um convênio da Sedac com o Ministério da Cultura, com a proposta de celebrar e divulgar o audiovisual gaúcho.
O dicionário também é um desdobramento do Portal do Cinema Gaúcho, lançado em maio de 2023 e vinculado ao site da Cinemateca Paulo Amorim. O site funciona como um banco de dados sobre o audiovisual produzido no Rio Grande do Sul, visando catalogar longas, médias, curtas, séries, cinejornais, clipes e programas de TV. O projeto é coordenado por Glênio.
Como critério para selecionar os longas para o livro, ele considerou a participação do Rio Grande do Sul como produtor ou coprodutor. O primeiro filme da lista é As Obras da Barra e do Porto do Rio Grande, de 1911, embora o autor alerta que o registro de 60 minutos não seria uma produção gaúcha stricto sensu, com sua origem incerta, “a despeito das filmagens no território local”. Trata-se de um longa mudo sobre obras que estavam sendo realizadas no Litoral Sul.
É possível perceber no dicionário a evolução do cinema gaúcho, principalmente com Vento Norte (1951), o primeiro longa sonoro de ficção do Estado, até o início da produção regular a partir de Coração de Luto (1967). O livro contempla também diferentes períodos da produção do RS, como chamado “cinema de bombacha e chimarrão” (tendo Teixeirinha como principal expoente), o ciclo do super-8 e o Novo Cinema Gaúcho, além de produções realizadas no interior do Estado — contemplando municípios como Santa Maria, Bagé, Passo Fundo, Pelotas, Caxias do Sul, Erechim, entre outros.
Para Sofia Ferreira, diretora do Iecine, é fundamental que se possam promover iniciativas que registrem, cataloguem e publiquem a cinematografia gaúcha. Ela lembra que o Rio Grande do Sul ocupou o terceiro lugar, de 1995 até 2019, entre os Estados que mais produziram e exibiram longas-metragens no país.
— Temos um legado, que celebramos com orgulho com essa publicação, que além de preservar, garante que nossa história através do cinema seja contada à sociedade civil. O professor Glênio nos brinda com esse brilhante levantamento, de mais de um século de produção audiovisual, que honra nosso passado e instrumentaliza nosso futuro, inaugurando um documento valioso às futuras pesquisas no campo cinematográfico — afirma Sofia.
A preocupação de Glênio com a catalogação do cinema gaúcho tem origem durante sua dissertação de mestrado, "História e Análise do Filme Vento Norte" (1999). Algo que ele encararia como missão posteriormente: em sua tese de doutorado, "Histórias do Cinema Gaúcho: Propostas de Indexação 1904-1954" (2005), ele se propôs a organizar a filmografia dos primeiros 50 anos do cinema gaúcho.
— Deparei com tantas informações esparsas e muita desinformação, fiquei impressionado. Se tu vais pesquisar cinema americano, há várias opções de catálogos. Aqui a gente não tinha nada — relata. — Se quisesse pesquisar sobre o cinema gaúcho, não tinha por onde começar. Havia uma grande lacuna, um excesso de mitos.
Para Glênio, tanto o dicionário quanto o portal têm o objetivo de organizar a filmografia do Estado. Assim, pode-se garantir a memória e a visibilidade do cinema realizado no RS.
— É uma maneira de preservar a nossa história, de ter um espaço que valoriza a nossa produção. Um lugar de pesquisa e conhecimento — pontua.
Glênio acrescenta que, talvez daqui a alguns anos, há possibilidade de ser elaborada uma continuação do dicionário, incluindo novos filmes. Enquanto isso, o portal é um trabalho contínuo — são mais de 800 longas indexados até o momento.