Depois do período de pandemia e a enchente que atingiu o Rio Grande do Sul em maio último, entre outras adversidades, o mercado de exibição dá sinais de estabilidade no Estado. Entre 2019 (quando houve o último topo) e 2023 (o ano mais recente com dados consolidados), ocorreu uma redução de público de 33,76% nos cinemas gaúchos, conforme dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine). Por outro lado, houve um aumento no número de salas no mesmo período, e representantes do setor projetam que 2024 seja fechado com números mais expressivos.
De acordo com informações disponibilizadas pelo Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA), órgão da Ancine que tem como objetivo a difusão de dados, o público nos cinemas brasileiros apresentou crescimento de 2018 para 2019: de 160 milhões para 173 milhões. No Rio Grande do Sul, também houve salto no período: de 6,8 milhões para 7,7 milhões.
Em 2018, filmes como Vingadores: Guerra Infinita, Aquaman, Pantera Negra e Os Incríveis 2 impulsionaram as bilheterias em todo país. Por outro lado, embora Nada a Perder tenha sido o filme brasileiro que mais vendeu ingressos naquele ano, totalizando 12 milhões, o filme se notabilizou por ser exibido para salas vazias.
Já 2019 contou com o arrasa-quarteirão Vingadores: Ultimato, que levou 19,6 milhões de pessoas aos cinemas do país. Longas como O Rei Leão (reboot), Coringa, Capitã Marvel e Toy Story 4 também contribuíram para os números expressivos daquele ano.
Porém, com a pandemia, os cinemas interromperam as atividades. Entre 2020 e 2022, as salas de exibição abriam e fechavam conforme o avanço da covid-19. Algumas fecharam em definitivo.
No Brasil, o público foi de 39 milhões — 1,6 milhão no RS — em 2020, impulsionado por Minha Mãe É uma Peça 3 e Frozen 2, que estrearam antes de março. Acompanhando a tendência nacional, o número de pessoas indo aos cinemas no Estado foi aumentando ano a ano: 2,1 milhões em 2021, e 4,3 milhões em 2022.
Com filmes como Velozes e Furiosos 10, Super Mario Bros. e, especialmente, o fenômeno Barbie, o público cresceu em 2023 no RS para 5,1 milhões — 114 milhões no país. Já neste 2024, 3,7 milhões de pessoas foram aos cinemas no Estado (84 milhões no país) até 21 de agosto, conforme os dados do Painel Indicadores do Mercado de Exibição da Ancine.
Em 2024, longas como Divertida Mente 2, Deadpool & Wolverine e Meu Malvado Favorito 4 fizeram a alegria do público e, consequentemente, dos exibidores. Para o setor, a expectativa é que este ano supere 2023, com as futuras estreias de Coringa: Delírio a Dois, Beetlejuice 2, Gladiador 2 e Mufasa. No entanto, as marcas antes da pandemia são difíceis de se alcançar.
Marcos Barros, presidente da Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex (Abraplex), ressalta que quando os cinemas retomaram as atividades em sua plenitude, após a pandemia, faltava a matéria-prima: filmes. Em seguida, a greve dos atores em Hollywood, em 2023, atrasou a finalização e a divulgação de longas. Ao mesmo tempo, o streaming ganhou força na pandemia.
— Tudo isso enquanto gerenciamos dívidas acumuladas no período — diz Barros. — Para que o público vá aos cinemas, é necessário que tenhamos filmes com potencial de atração e, também, que se criem e sejam respeitadas políticas eficazes de combate à pirataria e uma janela maior de lançamento dos longas no streaming.
Ricardo Difini Leite, vice-presidente da Federação Nacional das Empresas Exibidoras de Cinemas (Feneec), acrescenta:
— Quando o filme tem apelo popular, as pessoas comparecem. O cinema não deixou de ter apelo popular. Se tem um mês fraco, é porque não teve produto interessante. Estamos felizes e otimistas com as produções e com o desempenho deste ano. Na minha opinião, estamos estabilizados, com números próximos ao período anterior da pandemia.
Espaço para crescer
Segundo informações do Painel Complexos e Salas de Exibição, da Ancine, o Rio Grande do Sul conta com 53 complexos de cinema (destes, três fechados temporariamente), com 170 salas de cinema. Os dados foram contabilizados até 1º de agosto, antes da reabertura parcial da Cinemateca Paulo Amorim — a sala Eduardo Hirtz reabriu dia 8, mas as salas Paulo Amorim e Norberto Lubisco ainda não têm data para reativação.
Apesar dos problemas ocasionados pela pandemia e pela enchente, o número atual de salas operando é superior a números de antes da pandemia — 130 em 2018 e 157 em 2019. Houve uma redução em 2024 em comparação com o ano passado, quando chegou a 179.
Barros observa que alguns fatores contribuem para esse crescimento no Estado:
— São o investimento em ampliação do número de salas em municípios de pequeno e médio porte e os incentivos para o financiamento da construção de novas salas e da modernização de cinemas. E ainda há muito espaço para crescer. Atualmente, apenas 8% das cidades do Brasil possuem salas de cinema. Podemos crescer muito em municípios com menos de cem mil habitantes.