O cineasta, documentarista e professor Vladimir Carvalho faleceu na quarta-feira (23), aos 89 anos, vítima de infarto e complicações renais. Ele foi uma figura central do Cinema Novo e um dos fundadores do curso de Cinema da Universidade de Brasília (UnB), onde lecionou por mais de duas décadas.
Nascido em Itabaiana, na Paraíba, em 1935, começou sua carreira artística em Salvador, Bahia, antes de se mudar para Brasília, onde conheceu Glauber Rocha e passou a integrar o movimento do Cinema Novo.
Sua obra foi marcada por um olhar crítico e sensível sobre o Brasil, refletido em documentários históricos como O País de São Saruê, que enfrentou censura durante a ditadura militar, e Conterrâneos Velhos de Guerra, sobre a construção de Brasília.
Entre suas principais produções também estão O Itinerário de Niemeyer, José Lins do Rego, O Evangelho Segundo Teotônio e Barra 68, que abordou a resistência estudantil à ditadura na UnB. Em 1994, Carvalho fundou a Cinememória, instituição dedicada à preservação de seu acervo e à história do cinema brasileiro.
Além de cineasta, Vladimir era irmão do também renomado diretor Walter Carvalho, e juntos ajudaram a moldar a história do documentário no Brasil.
O legado de Vladimir Carvalho inclui não apenas suas produções cinematográficas, mas também sua influência na formação de novas gerações de cineastas por meio da docência e de sua participação na criação da Associação Brasileira de Documentaristas. Em 2012 ele recebeu o título de Professor Emérito da UnB.
Homenagens
Em 2015, Vladimir foi homenageado na abertura do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, onde declarou seu amor à capital e à sétima arte: “Desembarquei em Brasília em 1964, entrei por essa porta (do Cine Brasília) com meu filme, e isso resultou numa aventura de 45 anos. Vim para ficar dois meses, e já estou há 45 anos. Não dá para ficar aqui com hipocrisia ou falsa modéstia. Digo com toda sinceridade, sem pudor e com humildade: eu mereço, Brasília! Obrigado!”
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, decretou luto oficial de três dias em memória ao cineasta. "Vladimir Carvalho foi uma referência do cinema brasileiro, um mestre que usou sua arte para denunciar injustiças e dar voz aos desassistidos, especialmente em tempos de censura e perseguição política. Ele mudou a linguagem cinematográfica do Brasil, formando cineastas e levando o nome de Brasília ao cenário cultural internacional", afirmou o governador por meio das redes sociais.
Nos últimos anos, Vladimir transformou sua residência em um museu do cinema brasileiro, com a exposição de objetos pessoais de suas produções e relíquias que adquiriu de outros cineastas.