Pela primeira vez na história do Oscar, um único estúdio venceu todas as seis categorias principais: melhor filme, melhor direção, melhor atriz, melhor ator, melhor atriz coadjuvante e melhor ator coadjuvante. O feito foi conquistado pelo A24, estúdio por trás de produções como Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo e A Baleia.
A companhia acumulou 18 indicações na premiação deste domingo (12), sendo 11 delas por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo. O longa venceu em sete categorias, entre elas as cobiçadas melhor filme, melhor direção, melhor atriz (Michelle Yeoh), melhor ator coadjuvante (Ke Huy Quan) e melhor atriz coadjuvante (Jamie Lee Curtis). As outras duas estatuetas vieram com A Baleia, que rendeu a Brendan Fraser o Oscar de melhor ator. Diante de números tão significativos, chama atenção que o estúdio seja um representante do cinema independente.
A característica é visível nas produções encabeçadas pelo A24, que contornam a zona de conforto adotada nos últimos anos pelas grandes companhias de Hollywood. O estúdio foi fundado em 2012 pelos empresários Daniel Katz, David Fenkel e John Hodges. Desde então, vem construindo sua reputação em cima de projetos originais e com histórias "fora da curva" que acabam por não encontrar espaço nas gigantes do cinema.
É o caso dos recém-premiados Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo, focado em uma família de imigrantes asiáticos nos Estados Unidos, e de A Baleia, sobre um homem com obesidade mórbida. Mas também de O Quarto de Jack, que acompanha uma mãe e um filho que vivem em cativeiro e deu a Brie Larson o Oscar de melhor atriz, Moonlight: Sob a Luz do Luar, que rendeu ao estúdio o Oscar de melhor filme ao abordar temas como racismo e homofobia, e Minari: Em Busca da Felicidade, outra produção do A24 com protagonistas asiáticos, que elegeu Yuh-jung Youn como a primeira sul-coreana a vencer o Oscar de melhor atriz coadjuvante.
A consagração ajuda o A24 a angariar cada vez mais membros para a sua já forte base de fãs, o que pode influenciar em um dos principais problemas enfrentados pela indústria do cinema independente: a bilheteria. Com Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo, o estúdio passou pela primeira vez da marca de US$ 100 milhões arrecadados. Enquanto isso, Top Gun: Maverick e Avatar: O Caminho da Água, que também concorriam a melhor filme, faturaram respectivamente US$ 1,4 bilhão e U$$ 2,2 bilhões.
A expectativa de executivos da indústria cinematográfica é de que a marca que vem sendo construída pelo A24 faça com que o estúdio consiga se manter resistente ao mercado. Para os entusiastas, ele já é tido como uma grife para bons filmes independentemente do aval das premiações — vale lembrar que também são do A24 longas esnobados pelo Oscar, mas aclamados pelo público, como os filmes de terror Hereditário e Midsommar.
É uma trajetória que lembra a Miramax, produtora que também se tornou símbolo do cinema independente norte-americano na década de 1990 com filmes como Pulp Fiction: Tempo de Violência, O Paciente Inglês e Shakespeare Apaixonado. Nesse caso, porém, a companhia acabou vendida em 49% para a Paramount e 51% para o grupo catari beIN. O executivo do cinema independente Bob Berney, CEO da Picturehouse, aposta que o A24 terá um futuro mais promissor.
— Neste momento, eles não são apenas a empresa independente líder, mas também criaram uma marca que provavelmente ressoa mais com seus clientes do que qualquer outra empresa independente. Mais do que a Miramax — disse Berney em entrevista à agência Reuters.
Para este ano, o estúdio deve explorar mais produções para TV e streaming, outro braço seu. É do A24 a assinatura de Euphoria, da HBO Max, e o documentário da Apple TV+ sobre Amy Winehouse, por exemplo. Estão previstos para 2023 os lançamentos da série de humor Beef, para a Netflix, e do documentário Underrated, sobre o astro da NBA Steph Curry, para a Apple TV+. Além disso, no cinema, o estúdio prepara o lançamento do longa romântico Past Lives, aclamado no Festival de Berlim.