Estudantes do mundo inteiro estarão olhando para Alvorada neste sábado (3). O motivo é a realização da oitava edição do Festival Internacional de Cinema Escolar de Alvorada (Fecea), que vai premiar as melhores produções do ano realizadas por alunos dos ensinos Fundamental e Médio, assim como universitários, de instituições públicas e privadas. Na disputa, estão filmes inscritos de 92 países diferentes — um recorde.
A cerimônia de entrega dos troféus será realizada na Câmara Municipal de Alvorada (Rua Contabilista Vitor Brum, 21, Maringá), a partir das 16h. No total, foram inscritas 1.128 produções de até 20 minutos, vindas de lugares como Estados Unidos, Argentina, Uruguai, Filipinas, Mongólia, Ucrânia, Uzbequistão e até Burkina Faso — além do Brasil, é claro. É uma volta ao mundo acontecendo na Região Metropolitana de Porto Alegre.
O Fecea é organizado pelo Clube das 5, da Secretaria Municipal de Educação (Smed), e pelo Primeira Tela, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Leonel Brizola, projetos coordenados, respectivamente, pelos professores André Bozzetti e Adailton Moreira. A dupla, que ensina audiovisual para os alunos da rede pública de Alvorada, foi inspirada por outros festivais estudantis, como o Primeiro Filme, capitaneado pelo cineasta Carlos Gerbase.
— A gente foi premiado lá, mas o legal foi assistir aos filmes de outras cidades, de outras escolas. Pensamos que aquilo era um negócio legal de oferecer para os nossos alunos também, levar para Alvorada esse intercâmbio de cinema estudantil, com alunos dos mais variados lugares — explica Bozzetti.
Assim, em 2015, nasceu o Fecea que, inicialmente, não era para ser internacional. Mas, como Bozzetti e Moreira já tinham participado de festival no Uruguai com filmes de seus alunos, a dupla começou a fazer contato com os países da América do Sul para que eles participassem. E todos toparam, transformando a iniciativa alvoradense em bilingue, falada em português e espanhol desde a primeira edição.
— Naquela primeira edição, a gente teve 65 inscritos. Na segunda, foram 130. Já na terceira edição, a gente já teve 1,3 mil inscritos. Foi um crescimento muito grande. Na primeira edição, a gente só teve filmes da América do Sul, além dos nacionais. Na segunda edição, a gente já teve também dois filmes do Irã. Na terceira edição, já foram 90 países — comemora o coordenador Bozzetti.
A divisão das produções no Fecea é feita da seguinte forma: séries iniciais, do primeiro ao quinto ano; séries finais, do sexto ao nono ano; Ensino Médio; Educação de Jovens e Adultos (EJA) e universitários. Todos os filmes são analisados por um corpo de jurados formado por professores, profissionais do audiovisual e jornalistas.
— Não tem divisão entre ensino público e privado, é tudo junto, pois não costuma ter discrepância nesse sentido. Normalmente, não é o dinheiro que faz a qualidade do filme estudantil, mas a criatividade, a ideia — aponta Bozzetti.
Expandindo horizontes
Um dos pontos de destaque dentro do festival é a exploração de temáticas que estão alinhadas com a realidade dos estudantes, como bullying, violência contra a mulher, questões ambientais, de gênero e de raça — tanto é que o Fecea entrega, desde 2016, o Prêmio Sirmar Antunes por Protagonismo Negro.
A criação do Fecea buscou, desde o começo, aumentar o conhecimento dos estudantes alvoradenses sobre o cinema. Tanto é que os organizadores do festival, após serem procurados por universitários, decidiram abrir as portas para quem está fazendo filmes nas faculdades:
— A gente se deu conta que era interessante colocar filmes universitários também para que os alunos do Ensino Médio e do Fundamental vissem como estudantes de cinema faziam filmes.
Apesar de abrir suas portas para produções de estudantes de diversos níveis, o Fecea faz uma restrição: os filmes de Alvorada não concorrem com os de outros lugares do mundo.
— É um negócio para valorizar os nossos e, também, não ter aquela questão de "ganhou porque é de Alvorada" — explica Bozzetti.
O coordenador do Fecea aponta que a criação do festival para os alunos é de grande importância, pois os seus filmes são assistidos por diversas pessoas e, com isso, os estudantes se sentem valorizados e enxergam o quanto a cultura é essencial. Além disso, ele acredita que as crianças e os jovens começam a enxergas os filmes de maneira diferente assim que começam a mergulhar no mundo do audiovisual, adquirindo uma análise mais crítica.
As diversas culturas representadas pelas produções enviadas para concorrer no Fecea, segundo o professor, ajudam os jovens da cidade da Região Metropolitana a enxergarem que outras pessoas, da mesma idade, mas com outras experiências de vida, podem realizar produções completamente diferentes. As diferenças, assim, despertam a curiosidade e inspiram na forma de fazer cinema, instigando novas criações.
— A gente pega a gurizada de Alvorada, muitas vezes, sem perspectiva. Tu perguntas o que eles querem ser quando crescerem e muitos nem pensam a respeito disso. E os que têm alguma ideia de seguir na área do cinema, parece que se abre o campo de visão para o mundo — complementa Bozzetti.