Lançada entre 1982 e 1983, a história em quadrinhos V de Vingança, de Alan Moore (texto) e David Lloyd (desenho) tem como personagem central uma figura real da história britânica: Guy Fawkes (1570-1606), revolucionário que integrou um grupo de conspiradores católicos que planejaram o assassinato do rei protestante Jaime VI, em 5 de novembro de 1605.
O plano do grupo era explodir o Palácio de Westminster durante a tradicional cerimônia de abertura do parlamento. Mas a informação vazou e, durante uma revista, Fawkes foi encontrado no porão do local vigiando os barris de pólvora. Sob tortura, ele revelou os nomes dos parceiros e acabou enforcado. O episódio ficou conhecido como a Conspiração da Pólvora.
V de Vingança combina o fato real com a alegoria da ficção distópica, apresentando como protagonista um líder revolucionário que, num futuro então próximo (1997), após uma guerra nuclear, planeja derrubar um regime autocrático que governa a sociedade com mão de ferro — as pessoas têm direitos limitados e são monitoradas por câmeras.
Conhecido como V, o personagem usa uma máscara alusiva a Guy Fawkes. Em sua jornada, ele tem como pupila uma jovem que perdeu os pais na guerra atômica. A HQ foi adaptada para o cinema em 2005, por James McTeigue, com Hugo Weaving no papel sob a máscara e Natalie Portman como sua jovem aprendiz.
A versão para o cinema popularizou em todo o mundo a máscara de Fawkes como símbolo de contestação às autoridades — o coletivo virtual Anonymous adotou a máscara como imagem representativa — e fez o 5 de novembro ser lembrado, sobretudo nas redes sociais.
Curiosamente, essa lembrança, digamos, pró-Fawkes, subverte o sentido original de uma comemoração essencialmente britânica, conhecida como a Noite de Guy Fawkes (ou Bonfire Night), período deste começo de novembro em que se festeja no Reino Unido a sobrevivência do rei, com fogos de artifício e uma fogueira onde são lançados bonecos de Fawkes — algo parecido com a malhação de Judas no Brasil.