Com 25 páginas dedicadas ao Brasil, a edição de setembro da revista Cahiers du Cinema, mais reconhecida publicação sobre cinema no mundo, denuncia a "ofensiva reacionária e regressiva de Bolsonaro" contra o cinema no país. O enunciado na capa é "O Brasil de Bolsonaro".
O editorial, já disponibilizado online, afirma que a "ameaça" do presidente acontece no "momento em que o cinema brasileiro é um dos mais férteis", citando filmes como Aquarius (2016), de Kleber Mendonça Filho. Bacurau, do mesmo diretor, está na capa e ao longo de cinco páginas.
O especial sobre o país inclui textos como "Cinema brasileiro na era Bolsonaro", de Ariel Schweitzer, e "Bolsonaro e o legado do Cinema Novo", título da entrevista com o documentarista Eryk Rocha, filho do diretor Glauber Rocha.
Professor na Universidade Paris 8 e membro do conselho da revista, Schweitzer é o organizador da edição, que sai após as premiações de Bacurau e A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, de Karim Aïnouz, em Cannes.
No editorial, a Cahiers du Cinema relaciona as intervenções do presidente Jair Bolsonaro na Ancine (Agência Nacional do Cinema) com as interferências feitas pelo presidente francês Emannuel Macron. Há pouco mais de um mês, Macron indicou um de seus maiores doadores de campanha para presidir a agência de cinema na França, a CNC.
Dominique Boutonnat é questionado pela revista por ser "um especialista de financiamento privado na direção de um órgão público", que foi, "como em toda parte, infiltrado com a missão de desconstruir o serviço público por dentro".
O governo federal ainda não se manifestou sobre o conteúdo da revista.