Em março de 2018, uma equipe com centenas de pessoas tomou conta do Beco das Moças, no Rubem Berta, zona norte de Porto Alegre. O objetivo era rodar uma cena de Vidro, filme dirigido por M. Night Shyamalan – responsável por produções como Sexto Sentido (1999) e Sinais (1999).
Para as filmagens, o cineasta optou por utilizar o Bar Araújo - os proprietários do estabelecimento, Dilva Araújo e Paulo Silva, foram convidados a fazer uma ponta no longa. Ansiosa para se ver na tela grande, Dilva compareceu à sessão de estreia de Vidro, na última quinta-feira (17), no Espaço Itaú de Cinema. No entanto, o resultado não foi o esperado.
Ao longo de duas horas e nove minutos, Dilva assistiu à toda a conclusão da trilogia de Shyamalan, que iniciou com Corpo Fechado (2000) e teve sequência com Fragmentado (2016) os - longas abordam super-heróis e vilões pouco convencionais.
O filme ia se desenrolando, mas cadê Porto Alegre? Cadê o Beco das Moças? Eis que surge um rosto familiar. Dilva não teve dúvidas e cutucou seu filho, Daniel Miranda, 37 anos:
– É ele!
A comerciante de 67 anos se referia ao cineasta Shyamalan, que fez uma ponta no próprio filme que dirigiu. Dilva reconheceu o diretor indiano que comandou as gravações em seu bar. No entanto, nada de rostos familiares ou locais conhecidos. Como cenários de Vidro, só as ruas Filadélfia e um hospital psiquiátrico. O filme chegou ao seu final e nada de Dilva ou Beco das Moças, tampouco o Parque Esportivo da PUC, que também foi locação em Porto Alegre. Quem saiba surja algo nos créditos como nos filmes de heróis da Marvel? Dilva e seu filho acompanharam toda ficha técnica de Vidro, mas a cena rodada no Bar Araújo ficou de fora do corte final.
Dilva lamentou:
– O sentimento é de frustração. Não é o que eu esperava. Não foi nada parecido do que disseram para nós. Eu e meu marido participamos, mas não tem nada a ver com esse filme aí. Faz parte.
Conforme a comerciante, a equipe de Shyamalan chegou às 5h e passou um dia inteiro no Beco das Moças. Houve muita gente transitando entre câmeras, claquetes, holofotes, caixas de som, caminhões e figurinos, além de fiscais de trânsito bloqueando o tráfego com cavaletes. Depois de rodarem uma cena no local, Dilva e o marido foram convidados a participar do longa.
– Fiquei bem nervosa na hora de assinar o contrato – lembra.
Na cena, ela e o marido atendem um jovem que corre dentro do bar. Mesmo que sua participação não tenha entrado no longa, Dilva acredita que a experiência de quase estar em um filme foi maravilhosa:
– Foi muito, muito bom. Valeu a pena. Curtimos bastante a experiência. Almoçamos todos juntos. Adorei o pessoal da produção. Shyamalan era legal, mas quem eu entendia mais eram os brasileiros (produtores e assistentes) – aponta. – Esse indianos falando era um horror – completa.
Dilva ainda não havia assistido aos outros dois filmes da trilogia, o que não a impediu de ter gostado bastante de Vidro. Porém, com uma ressalva:
– Só faltou a gente (risos). Tínhamos que ter aparecido no final.
Fim da franquia
A cena rodada no Rubem Berta não deve ser utilizada tão cedo. Se depender de Shyamalan, a franquia que envolve seu universo de heróis chegou ao fim. Em entrevista à revista Entertainment Weekly, ele comentou que deseja trabalhar com outras ideias originais.
– Eu sou um cineasta original e quero continuar contando novas histórias com novos personagens. É divertido pra mim tentar encontrar uma nova linguagem e então aprendê-la e tentar passar duas horas com o público para aprendê-la, aceitá-la e assistir à sua própria forma – afirmou o cineasta.