Diretores relutaram, mas a Netflix está conseguindo se consolidar na indústria do cinema. No sábado (8), a insistência foi laureada. Com o longa Roma, do mexicano Alfonso Cuarón, reconhecido com o Leão de Ouro no Festival de Veneza, a plataforma venceu pela primeira vez um grande prêmio cinematográfico.
Produzido e distribuído pela Netflix, o filme em preto e branco retrata os dilemas sociais e raciais do México na década de 1970. Também é um retrato intimista do próprio Afonso Cuarón, que se inspirou na história de sua família e dedicou o longa a sua babá, uma doméstica de origem indígena chamada Libo, na história interpretada por Yalitza Aparicio. Assim como ela, o resto do elenco é não composto por estrelas do cinema.
Roma já era considerado um dos favoritos ao prêmio após receber nota máxima de cinco dos dez críticos internacionais. Recebeu elogios como "obra-prima", "épico" e deslumbrante". Deve ser lançado na Netflix ainda este ano.
A plataforma encontrava problemas em lançar seus filmes nos maiores festivais de cinema sem causar ruídos. Com novas regras, o Festival de Cannes passou a exigir que, para integrar a competição, as produções fossem exibidas dentro do circuito comercial francês antes de serem lançados na plataforma. A Netflix não concordou.
Em 2017, um grupo de cineastas reconhecidos no que se convencionou chamar cinema autoral assinou um manifesto "em favor do cinema europeu e contra os gigantes da internet". A lista incluía Michael Haneke, Wim Wenders, Stephen Frears, Paolo Sorrentino os irmãos Dardenne. O argumento dos realizadores era o de manter "a territorialidade dos direitos (...) e assegurar o elevado nível de financiamento das obras".
A Netflix seguiu insistindo. Em 2017, venceu a primeira estatueta no Oscar com o curta-metragem de The White Helmets e, em 2018, repetiu o sucesso com o documentário Ícaro, de Bryan Fogel, que investiga o uso de doping nos esportes.
A plataforma acabou provando que não produz apenas filmes comerciais. É da Netflix o apoio para resgatar um filme inacabado de Orson Welles, grande cineasta americano, autor daquele que ainda hoje é tido como um filme referência na história do cinema, Cidadão Kane (1941). The Other Side of The Wind, com John Huston no elenco, foi exibido no Festival de Veneza, que também deu o prêmio de melhor filme a Roma.