Isis Valverde está preparada para ter um próximo ano cheio de novas experiências. A primeira e mais óbvia é ser mãe. A atriz, que veio ao Festival de Gramado para apresentar o filme Simonal, está grávida de sete meses de seu primeiro filho, para o qual ela e o marido André Resende já escolheram um nome, Rael. Ela também tem marcada para o ano que vem sua primeira experiência no cinema internacional, um filme dirigido por um diretor canadense, com elenco majoritariamente estrangeiro, mas protagonizado por ela. E é em 2019 também que Simonal deve estrear em circuito comercial. O que a faz abrir a entrevista falando deste seu trabalho mais recente, no qual interpreta Tereza, a esposa do cantor.
Simonal narra a trajetória de ascensão e queda de Wilson Simonal como um astro de massas. Tão popular quanto Roberto e Erasmo Carlos nos anos 1960, o cantor caiu em desgraça após pedir a um amigo agente do Dops que intimidasse um ex-funcionário que havia ingressado com um processo trabalhista contra ele. No inquérito sobre o caso, Simonal acabou implicado como informante dos órgãos de repressão, fato que nunca foi comprovado na documentação aberta posteriormente, com a queda da ditadura. No filme, Fabrício Boliveira vive o cantor e Ísis, sua mulher, também afetada pelas repercussões do escândalo.
— É uma pessoa que eu admiro muito, sua força, sua coragem, sua feminilidade, eu a considero uma mulher incrível, mas não cheguei a conhecê-la pessoalmente. Até porque ela é uma pessoa muito fragilizada por tudo o que aconteceu, então os filhos decidiram poupá-la. Mas através de fotos, de uma conversa ao telefone, rápida, com ela, e com as informações dos filhos, eu fui construindo minha aproximação com essa mulher – comentou Isis.
O efeito de sua interpretação foi ressaltado unanimemente pelos filhos de Simonal, também presentes em Gramado.
— Esse filme me conectou muito mais com a minha mãe do que com meu pai — comentou Simoninha, na entrevista coletiva que se seguiu à exibição.
Uma afirmação que outra filha de Simonal, Patrícia, repetiria mais tarde no salão da Lareira do Hotel Serra Azul. Declarações que emocionam a atriz, uma autoproclamada perfeccionista. Ela comentou que sentiu efeitos físicos do sofrimento de Tereza, encenada na tela, inclusive um longo período de enxaquecas, mas que se sentiu realizada com a experiência.
— Eu acho mais difícil reproduzir uma pessoa que já existe do que fazer algo fictício, que você pode criar com qualquer referência. Foi a primeira vez que fiz uma personagem biográfica, e foi uma experiência muito linda, porque você vai absorvendo a vida daquela pessoa e sentindo na pele coisas que ela passou. Mesmo não a conhecendo ou vivendo o que ela foi, eu consegui ser um pouco dela. — comentou.
Longe das novelas desde 2017, com o fim de A Força do Querer, Isis já tem um compromisso profissional marcado para depois do nascimento de seu filho. Ela deve filmar As Fabulosas Aventuras de Inês, uma produção estrangeira do diretor conhecido por produções como o horror Infectados (2005) e o drama Normal (2007). Isis será uma noviça religiosa que tenta evitar o fechamento de um orfanato.
— A história é de uma órfã, uma noviça religiosa que vive num convento no Interior nordestino. E ela acaba, depois de várias reviravoltas, indo para o Canadá. Então o filme vai trabalhar essas duas oposições, a poeira do sertão e a neve — resume.
Isis foi selecionada após uma bateria de audições realizadas por Essai no Brasil, já que o diretor tinha em mente desde o início que sua protagonista fosse uma brasileira que viaja ao Canadá.
— Ele veio para o Brasil fazer testes, queria especificamente uma brasileira, e me escolheu. E eu achei isso muito legal, porque não se tem muita abertura no cinema gringo, no Norte principalmente. É sempre um papel secundário, você entra muda e sai calada ou é algo tão pequeno que você aparece, diz “Yes, sir”, e some. É ou não é? Então acho que é uma porta aberta bem interessante.
Ah, há ainda outra experiência que Isis deve viver no ano que vem: lançar um livro. A atriz já fala há algum tempo sobre um projeto de volume que vem preparando há anos, mas desta vez diz ter chegado a uma forma final e que o livro deve se concretizar de fato.
— Esse livro falo dele há muitos anos e não consigo lançar. Agora estou começando a fazer um trabalho com ele. Já fiz toda uma recapagem (risos), analisei, pus em uma ordem e já estou em contato com uma editora, então deve sair no próximo ano. São contos poéticos que eu escrevo desde os 19 anos. É uma obra para adultos, até porque alguns dos textos são um pouco pesados (risos). Espero que seja um livro que incentive as meninas a escrever um pouco mais sobre si mesmas. Falo muito da minha vida pessoal ali, mas de um modo mais poético.