Um dos filmes mais comentados na disputa pela Palma de Ouro no Festival de Cannes 2017, Okja estreia nesta quarta-feira na Netflix sem ter sido exibido nos cinemas. E foi essa particularidade a razão da controvérsia em torno da produção sul-coreana bancada pela plataforma de serviço por streaming que tem mais de 100 milhões de assinantes no mundo. Em décadas passadas, longas-metragens produzidos especificamente para a televisão, chamados telefilmes, costumavam ser produções de segunda linha, com exceções pontuais como o Encurralado (1971) de Steven Spielberg. Produções como as do canal HBO, que decidiu apostar no formado atraindo diretores e astros prestigiados, apontaram um caminho que agora é seguido pela Netflix. A diferença é que a Netflix, por sua natureza, parece não ver mais sentido em delimitar o que é televisão e o que é cinema.
Com direção por Bong Joon Ho, do celebrado O Hospedeiro (2006). Okja é uma fantasia sobre garotinha (Ahn Seo-hyun) que luta para impedir que uma criatura gigantesca mantida por sua família seja raptada por multinacional com interesses nefastos chefiada pela personagem de Tilda Swinton. Paul Dano e Jake Gyllenhaal são outros nomes do elenco.
Leia mais
Dirigido pelo brasileiro Fernando Coimbra, "Castelo de Areia" estreia na Netflix
"Fargo", a série brilhante que nunca estreia no Brasil
Com a seleção de Okja e de outro filme da Netflix, The Meyerowitz Stories, do americano Noah Baumbach, para sua seleção principal deste ano, os organizadores do Festival de Cannes buscaram estreitar o diálogo cada vez mais efetivo entre múltiplas plataformas de exibição. Mas críticos e cineastas puristas protestaram contra a inclusão na mostra de filmes que sabidamente não seriam exibidos nos cinemas. A pressão funcionou. A partir de 2018, Cannes só aceitará na competição títulos que tiverem estreia assegurada nas salas de exibição.
A circulação de um longa-metragem costuma, via de regra, seguir uma janela de exibição que tem início nas salas de cinema e chega a outras plataformas (como TV a cabo, DVD e streaming) cerca de 90 dias depois. A tentativa da Netflix em mostrar sua força no cinema vem desde 2015, quando apresentou Beasts of no Nation(veja abaixo). A plataforma lançou o debate e parece disposta a seguir com a luta para consolidar um modelo de lançamento que dará ao espectador a palavra final sobre a melhor maneira de assistir a um filme.
Produção própria
Conheça outro longas-metragens da Netflix
Beasts of No Nation (2015)
O primeiro longa da Netflix estreou na competição pelo Leão de Ouro no Festival de Veneza, em setembro de 2015, e entrou na plataforma no mês seguinte. Aclamada pela crítica, a produção dirigida por Cary Joji Fukunaga, sobre menino transformado em soldado para lutar na guerra em país africano, foi lançada simultaneamente nos cinemas com a expectativa de se credenciar à temporada de prêmios. Mas sua exibição foi boicotada por grandes redes de exibidores dos EUA. Idris Elba ganhou uma indicação ao Globo de Ouro de ator coadjuvante e venceu nessa categoria no Screen Actors. Mas o filme, apesar das expectativas, foi ignorado no Oscar.
Castelo de Areia (2017)
Produção assinada pelo brasileiro Fernando Coimbra, do elogiado thriller O Lobo Atrás da Porta e de episódios da série Narcos, também da Netflix. Estreou na plataforma em abril passado. A trama é ambientada no Iraque em 2003, durante a segunda Guerra do Golfo, onde um grupo de soldados americanos tenta se aproximar da população civil local. No elenco, estão nomes como Henry Cavill, o atual Super-Homem.
War Machine (2017)
Disponibilizado em maio, o filme de David Michôd apresenta Brad Pitt em uma trama pontuada pelo humor negro. O astro vive um excêntrico general da Otan em serviço no Afeganistão, cuja postura de pop star chama a atenção de um jornalista investigativo.
Bright (2017)
Com estreia prevista para dezembro, a ficção científica de David Ayer (de Esquadrão Suicida) é estrelada por Will Smith, Joel Edgerton e Noomi Rapace. O cenário é um universo alternativo em que humanos, elfos e fadas convivem em harmonia, até surgirem por ali criaturas malignas.
The Meyerowitz Stories (2017)
O longa de Noah Baumbach disputou a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2017 e ainda não tem previsão de estreia na Netflix. Adam Sandler e Ben Stiller vivem dois irmãos que voltam para sua cidade natal para ajustarem pendências afetivas com o pai (Dustin Hoffman).
The Irishman (2018)
A A grande aposta cinematográfica da Netflix está prevista para 2018. A festejada produção de Martin Scorsese contará a história de um matador da máfia (Robert De Niro) suspeito de assassinar o controvertido íder sindical Jimmy Hoffa (Al Pacino). O elenco traz ainda Joe Pesci e Harvey Keitel. Em Hollywood já se prospecta que, até o lançamento do filme, no qual a Netflix investiu US$ 105 milhões nos direitos de distribuição, a questão de estrear ou não antes no cinema já esteja superada, e The Irishman brilhe no Oscar.