Adaptação do êxito literário com viés de autoajuda espiritual A Cabana, o filme homônimo que entra em cartaz amanhã propõe uma visão singular e humanizada da Santíssima Trindade: Deus é uma mulher negra, Jesus mostra-se como um sujeito com jeitão hipster e o Espírito Santo tem o rosto de uma jovem asiática. O protagonista é Mack Phillips (Sam Worthington, de Avatar), pai de família devastado pela morte da filha de seis anos. O corpo da menina nunca foi encontrado, mas sinais de que a pequena Missy foi assassinada são achados em uma cabana nas montanhas. Anos depois, Mack recebe em casa uma carta misteriosa que o convida a retornar até esse local, onde depara com as divindades lideradas por uma senhora chamada Papa – Octavia Spencer, vencedora do Oscar de atriz coadjuvante por História Cruzadas (2011).
O elenco do filme inclui também a brasileira Alice Braga, no papel da Sabedoria. Um mês após concorrer novamente ao Oscar de atriz coadjuvante por Estrelas Além do Tempo, a norte-americana Octavia Spencer veio ao Brasil para divulgar A Cabana – e falou ao telefone com Zero Hora.
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ENTREVISTA COM OCTAVIA SPENCER
Como foi interpretar Deus? Não é um papel qualquer, certo?
Não é um personagem comum, mesmo. Como atriz, fiz meu dever de casa, procurei todas as referências religiosas do livro e depois deixei-as de lado. Você mantém isso no coração, mas, para mim, Deus é um pai supremo, e minha abordagem do personagem foi como se ele fosse uma mãe com o filho.
Você disse que o filme provocou em você uma catarse. Como ele afetou você?
Você descobre que tem certas coisas que acha que aguenta, mas que na verdade não consegue suportar. Nós aprendemos com Mack (personagem de Sam Worthington), porque ele sofre esse grande trauma e essa tragédia e é incapaz de crescer, a família dele é incapaz de superar esse episódio. Foi algo que aprendi, que há certas coisas que eu não consigo imaginar como aguentaria, como seria capaz de me libertar.
Você se emocionou durante as filmagens?
É diferente quando você está envolvido. Você sente certas coisas, uma conexão forte com o seu personagem e com os outros em volta. Não posso dizer que senti necessariamente uma epifania enquanto atuava, mas posso dizer a você que estar envolvida nesse projeto me permitiu perceber certas semelhanças com a minha própria vida.
Qual é a mensagem que filme deixa para o público?
Eu tento não dizer para as pessoas o que elas devem pensar ou acreditar. acho que temos que passar toda a informação necessária para as pessoas pensarem por si próprias. Acho que todo mundo enfrenta desafios em algum momento e sinto que o filme oferece alternativas para você lidar com eles.
Você é religiosa?
Sou uma pessoa de fé, sim.
Você já ganhou um Oscar e foi indicada ao prêmio novamente. A estatueta de melhor filme neste ano foi para Moonlight, e Viola Davies foi premiada por Um Limite Entre Nós. Você acha que as coisas estão melhorando para os artistas afro-americanos em Hollywood?
Definitivamente, as coisas estão melhores, mas, se você me perguntar se há igualdade nos tipos de papéis que são oferecidos a mulheres afro-americanas e brancas, a resposta é não. Da mesma forma que não há papéis suficientes para mulheres latinas ou asiáticas. Fizemos avanços, mas não chegamos lá ainda.
Quais são seus próximos projetos?
Meu novo filme está saindo agora e se chama Gifted (estreia nesta sexta-feira nos Estados Unidos). É com o Chris Evans, o Capitão América, e uma garotinha e conta a história de um homem que cria sua sobrinha, uma menina prodígio.
Com quais atores você gostaria de trabalhar?
São tantos, não queria esquecer de nenhum citando só alguns. Mas adoraria trabalhar com Alice Braga e Sônia Braga. Também amaria trabalhar com Sally Field.
A CABANA
De Stuart Hazeldine. Drama, EUA, 2017, 132min. Estreia nesta quinta-feira no circuito de cinemas. Cotação: 2 de 5.
O livro
Lançado em 2007 em língua inglesa (e em 2008 no Brasil, pela editora Sextante), A Cabana é um best-seller do canadense William P. Young. Ex-DJ e salva-vidas que, quando criança, viveu em uma tribo de Papua Nova-Guiné junto aos pais missionários, Young formou-se em Teologia nos EUA. A Cabana é seu livro de estreia. Vendeu mais de 18 milhões de cópias em diversos idiomas. Depois, o autor lançou ainda A Travessia (2012) e Eva (2015).