Kristen Stewart desfilou pelo Festival de Cannes de 2016 como uma das mais badaladas musas do evento na Riviera Francesa. A atriz americana estrelava na ocasião filmes de dois renomados diretores: Café Society, de Woody Allen, que abriu a programação fora de competição, e Personal Shopper, de Olivier Assayas, concorrente à Palma de Ouro, que estreia hoje no Brasil.
Em Cannes, Kristen realçou a imagem pública que se tornou recorrente, sobretudo diante do assédio de fãs e jornalistas: a atitude punk-blasé combinada com uma postura que alia timidez e enfado. Compreende-se. Os passos da intérprete são acompanhados com atenção diante e atrás das câmeras. É uma atriz que tem buscado em trabalhos com mais estofo autoral se descolar da imagem de heroína romântica consagrada como a mortal que se apaixona por um vampiro na saga juvenil Crepúsculo, que se desdobrou com sucesso nos cinemas entre 2008 e 2012. Quando o romance da ficção com o colega de elenco Robert Pattinson virou namoro na vida real, ela se viu no redemoinho de uma polêmica que envolveu até o agora presidente Donald Trump (leia abaixo).
Netflix investe em filmes com grandes nomes do cinema
Netflix exibe filmes que ficaram inéditos nos cinemas do Brasil
Kristen, 26 anos, tem dado passos seguros e feito boas escolhas para consolidar sua carreira. Passos que a levaram a trabalhar na Europa com um dos mais prestigiados cineastas contemporâneos. O francês Assayas – da exuberante minissérie Carlos, o Chacal (2010) e de longas como Depois de Maio (2012) – trabalhou com Kristen em Acima da Nuvens (2014), drama no qual a atriz interpreta a jovem assistente de uma diva do teatro vivida por Juliette Binocche. Com Assayas, Kristen alcançou um dos melhores desempenhos de sua carreira. Ganhou confiança para encarar um papel com mais fôlego, como a protagonista de Personal Shopper.
Na trama que transita entre o fantástico e o suspense, ela é Maureen Cartwright, garota que vive em Paris trabalhando como assistente de compras de uma ricaça – a função mencionada no título. Sua tarefa é garimpar em lojas de grife e no acervo de promissores jovens estilistas, também em Londres e Milão, roupas e acessórios exclusivos para a patroa desfilar.
Para Maureen, porém, essa busca por adereços para o corpo alheio que tão bem lhe remunera é menos importante do que a busca que faz para encontrar conforto para sua alma. Acreditando ter os mesmos poderes mediúnicos que seu irmão gêmeo recentemente morto – em razão de um problema cardíaco congênito, do qual acredita ser também provável vítima –, Maureen está obcecada em fazer contato com o além. Ela e o irmão combinaram que quem morresse primeiro enviaria um sinal desde o outro lado.
Assayas saiu de Cannes com o prêmio de melhor direção (dividido com o romeno Cristian Mungiu, por Bacalaureat, ainda inédito no Brasil). O reconhecimento obtido pelo diretor, entretanto, é devedor ao bom trabalho de Kristen, que conseguiu dar conta de uma personagem complexa que preenche as lacunas de um roteiro (do próprio Assayas) problemático. É um trabalho exigente, sem dúvida, para sustentar uma narrativa que não alcança fluidez nos diferentes registros aos quais se lança: thriller sobrenatural, crônica comportamental, drama psicológico, suspense policial.
Nesse trânsito entre as futilidades carnais e os dilemas espirituais, Assayas por vezes parece deixar a personagem de Kristen à deriva na busca pelas respostas que a afligem. O mistério em torno das mensagens que Maureen recebe no celular, por exemplo, surge de forma interessante – serão deste ou de outro mundo? – para desaguar numa solução tola. Kristen chega ao final dessa intrigante jornada com mais fôlego do que o diretor, plenamente credenciada para passos ainda mais largos.
Atriz virou obsessão de Donald Trump
Já eleito presidente dos EUA, Donald Trump segue acrescentando capítulos ao seu já robusto compêndio de polêmicas amealhadas no Twitter, em especial as que o colocam em confronto com celebridades de Hollywood. Kristen Stewart é personagem antiga nessa galeria de desafetos do político bufão. Ao apresentar uma edição do programa humorístico Saturday Night Live, em fevereiro, Kristen mandou um recado a Trump: "O presidente não é um grande fã meu, mas tudo bem. Donald, se você já não gostava de mim, vai passar a me detestar, porque estou aqui na abertura desse programa e, bem, eu sou gay, parceiro".
Na ocasião, Kristen, sempre reservada a respeito de sua vida privada, recapitulou a pendenga com o presidente, iniciada em 2012, quando o então empresário, sabe-se lá por que razão, meteu-se a dar pitacos sobre a vida amorosa da atriz. "Todo mundo sabe que eu estou certo quando digo que Robert Pattinson deveria largar a Kristen Stewart. Em alguns anos, ele vai me agradecer. Seja esperto, Robert", escreveu Trump, referindo-se ao fato de a atriz, então namorada de seu parceiro de cena na saga Crepúsculo, ter sido flagrada beijando o cineasta Rupert Sanders (que a dirigiu em Branca de Neve e o Caçador).
Diante da reconciliação do casal, Trump não se emendou: "Robert Pattinson não deveria voltar com Kristen Stewart. Ela o traiu e o tratou como um cachorro. Ele pode ter algo muito melhor!", dedilhou em uma de suas muitas e intempestivas manifestações sobre o caso. No Saturday Night Live, Kristen ainda brincou: "Por alguma razão, isso deixou Donald Trump insano. Para ser honesta, não acho que Trump me odeia. Penso que ele está apaixonado pelo meu antigo namorado".
Personal Shopper
De Olivier Assayas
Suspense, França/Alemanha, 2016, 105min, 14 anos.
Estreia nesta quinta no Espaço Itaú 3 (17h40) e Espaço Itaú 6 (14h, 19h).
Cotação: 3/5