Quando O Chamado foi lançado, em 2002, Samara Morgan tocava o terror por meio de uma fita VHS – quem assistisse ao vídeo de dois minutos morria em sete dias. O primeiro longa da trilogia era uma refilmagem do japonês Ringu (1998) – que, por sua vez, era baseado no romance de Koji Suzuki – e foi um sucesso estrondoso, arrecadando cerca de US$ 250 milhões em bilheterias do mundo todo e consagrando-se como um marco do cinema de terror dos anos 2000, além de abrir as portas para outros remakes hollywoodianos de produções nipônicas do gênero, como O Grito (2004) e Água Negra (2005).
Na enfadonha sequência de 2005, realizada por Hideo Nakata – o mesmo diretor do filme original do Japão –, lá estava a fita maldita novamente, apesar de a mídia já estar defasada na época. Doze anos depois, o videocassete é uma peça de sucata. O Chamado 3 é lançado na era do YouTube, em que os vídeos se propagam rapidamente na web e em aplicativos de mensagens instantâneas, sendo consumidos no computador, na TV e no celular. Portanto, Samara agora poderia ter mais opções para ser vista e replicada.
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Dirigido pelo espanhol F. Javier Gutiérrez (de Três Dias), o terceiro filme da saga não conta com Rachel Keller (Naomi Watts) e seu filho Aidan (David Dorfman), protagonistas das sequências anteriores. Samara agora é outra: a contorcionista Bonnie Morgan assume o papel que já foi interpretado por Daveigh Chase e Kelly Stables.
Desta vez, somos apresentados a um casal devotado (e, ao mesmo tempo, meloso): Julia (Matilda Luz), uma jovem que permanece em sua cidade após concluir o colegial para ajudar sua mãe, e Holt (Alex Roe), que parte para uma faculdade longe dali. Quando ele para de retornar mensagens e desaparece, ela parte rumo ao campus para procurá-lo.
Na universidade, Julia descobre que seu namorado integrou um experimento de seu professor de biologia, Gabriel (Johnny Galecki, o Leonard de The Big Bang Theory), no qual várias pessoas assistem reproduções digitais da fita de Samara. Para livrarem-se da maldição dos sete dias, copiam o vídeo – agora a gravação pode ser realizada por um Ctrl+C e Ctrl+V no computador – e repassam para outras vítimas. Porém, Holt não encontrou alguém para assistir sua cópia e, por isso, havia sumido (custava mandar um "Oi, ando muito ocupado"?). Com o tempo de seu amado se esgotando, a jovem se sacrifica e assiste a cópia dele. No entanto, novas cenas se revelam para Julia, que não consegue duplicar o vídeo para se salvar. Então, o casal parte para a cidade onde está enterrada Samara para investigar o que a vilã quer dizer com as imagens.
Apesar de criar alguns bons momentos de tensão, O Chamado 3 padece com a falta de concisão – ora é um ensaio com premissa a la Black Mirror, ora é um terror ambientado em cidade pequena –, cuja trama costura-se por coincidências displicentes do roteiro. As personalidades dos protagonistas são construídas de maneira pobre – é como se os dois não tivessem passado ou vida própria. Muitos dos momentos que deveriam provocar sustos são previsíveis: quando há alteração na trilha sonora, sabemos que algo sinistro acontecerá – uma velha muleta do gênero.
Em uma época que Samara teria potencial para aterrorizar até como youtuber, O Chamado 3 nos faz sentir saudade de quando a vilã se restringia ao VHS.
O CHAMADO 3
De F. Javier Gutiérrez. Terror, EUA, 2017, 102 min.
Em cartaz nos cinemas, em cópias 3D e convencionais.
Cotação: 2 de 5.